São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Crise mexicana afeta bancos argentinos, diz vice-ministro

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O vice-ministro da Economia da Argentina, Carlos Sánchez, disse à Folha que o sistema financeiro do país não sairá ileso dos efeitos da crise mexicana. A consequência disso, segundo ele, serão fusões e incorporações no setor.
"Pode ocorrer um processo de diminuição do número de bancos, com fusões e incorporações. Isso pode dar maior solidez ao sistema bancário argentino", avalia.
Sanchez afirma que o governo temeu que uma quebradeira de bancos criasse pânico entre os correntistas.
Por isso, criou o socorro mediante a criação de um fundo de US$ 1 bilhão apenas para bancos com problemas de liquidez –disponibilidade em moeda corrente ou posse de papéis e valores conversíveis automaticamente em dinheiro.
Sánchez repete várias vezes que a crise no sistema bancário atingiu apenas instituições que não concentram suas operações na captação de depósitos, mas trabalham basicamente com fundos de investimentos (bancos atacadistas).
Apesar disso, o secretário de Finanças e Bancos, Roque Maccarone, já admite que cerca de 30 bancos têm dificuldades de liquidez.
O ministro da Economia, Domingo Cavallo, está disposto até mesmo a usar recursos próprios do governo para frear uma crise generalizada de liquidez no sistema bancário argentino.
"O problema é limitado aos bancos atacadistas. O governo se preocupou que esses bancos quebrassem. Isso seria um sinal que assustaria muita gente", observou Sánchez.
Segundo ele, o governo não estenderá sua rede de socorro às instituições com problemas de solvência, ou seja, que não consigam pagar compromissos em dia. Nesses casos, haverá "morte natural".
O vice-ministro, que também é Secretário de Comércio e Investimentos, diz que não existe "pânico" entre os correntistas porque a crise de liquidez existe apenas em operações interbancárias e não afeta o correntista pessoa física.
Ele avalia que a completa dolarização de todas as operações das instituições financeiras com o Banco Central deverá reduzir as incertezas dos agentes financeiros sobre uma eventual desvalorização do peso argentino.
"O que foi feito até agora tende a gerar mais confiança. Se isso ocorrer, como esperamos, vai aumentar a demanda por pesos".
Sánchez reconhece que a desvalorização da moeda argentina está influindo no comportamento dos poupadores argentinos. Muitos estão preferindo mudar suas aplicações em pesos para dólares.
"Nós, argentinos, abandonamos a idéia de monopólio do Estado sobre a emissão de dinheiro".
O vice-ministro lembra que todo o volume de pesos em circulação na economia está garantido por igual quantidade de divisas depositada junto ao Banco Central.

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