São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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A morte de um pioneiro

LUÍS NASSIF

Morreu há cerca de dez dias, em Nassau, com mais de 90 anos de idade, o pioneiro do mercado de capitais brasileiro: o financista americano Dauphinot Jr., espécie de Jorge Paulo Lehmann (que foi seu discípulo) em escala internacional.
Com David B. III, Dauphinot criou a Deltec, instituição que criou fama internacional no pós-guerra, como pioneira dos incipientes mercados internacionais de câmbio e de títulos de dívida nacionais. Sua sede era em Nassau e de seu capital participavam alguns dos maiores bancos internacionais.
Foi a primeira instituição a operar com "dolar notes" (títulos da dívida externa), colocando emissões de dívidas latinas no resto do mundo. Até que os grandes bancos internacionais invadissem seu terreno, na negociação de títulos de dívidas de países, dominou amplamente o mercado e acabou sendo o grande celeiro de analistas que ajudaram a formar o mercado internacional de títulos nos anos 50.
A Deltec chegou ao Brasil em 1946. Foi a responsável por grandes lançamentos de ações nos anos 50, como a da Willys Overland --de propriedade de um grupo de empresários mineiros liderados pelo pai do atual embaixador brasileiro em Washington, Paulo de Tarso Flexa de Lima.
Em 1961 lançou o segundo fundo de investimento do país --o Condomínio Deltec. O pioneiro havia sido o Fundo Crescinco, lançado anos antes pelo IBEC, do grupo Rockefeller.
Anos depois, da fusão entre o IBEC, a Deltec e o Banco Moreira Salles, nasceu o Banco de Investimentos do Brasil (BIB), um dos esteios da grande revolução do mercado de capitais brasileiro no fim dos anos 60, no rastro da nova Lei de Mercado de Capitais.
Dos quadros da Deltec, saiu a geração responsável pela evolução do mercado de capitais brasileiro --que, com todas as distorções pós anos 70, ajudou a aproximar o país das economias de mercado modernas.
Nos anos 70, a Deltec meteu-se em operações desastrosas no mercado internacional. Como a aquisição da Swift Armour na Argentina, numa operação que lhe causou enormes prejuízos. Quando grandes bancos entraram no mercado de títulos internacionais, ela perdeu seu espaço. Manteve negócios no país, como a Citi da Lapa.

Telecomunicações
A análise de um governo deve ser feita em cima de decisões concretas. O presidente da República Fernando Henrique Cardoso já declarou que o Ministro das Comunicações, Sérgio Motta, será seu braço direto na política do setor.
Há anos as telecomunicações se transformaram no butim predileto da rapinagem política no Brasil. Pelo seu potencial financeiro, por sua importância estratégica na economia brasileira, a indicação dos presidentes e diretores de teles estaduais será um teste de fogo.
Demonstrará até que ponto vão as intenções modernizantes de FHC, e quem é o verdadeiro Sérgio Motta --se o Ministro do discurso modernizante, ou se o mala preta das finanças partidárias.

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