São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Partida do Canindé foi jogo de gente grande

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Foi uma decisão de gente grande, essa dos meninos tricolores e corintianos. A técnica cedeu lugar à emoção, e o jogo foi uma sucessão de viradas. Quando o São Paulo estava melhor, o Corinthians marcava. E vice-versa. O único lance de técnica apurada foi o que resultou no terceiro gol tricolor, com Denilson e Fábio.
Por isso, o empate de 3 a 3, no tempo normal, foi justo. A vitória final ficou por conta do acaso.

Outro dia me ligou o Ruy Castro. Ruy, ao lado de Fernando Moraes, o nosso Fernando B., criou o novo romance histórico brasileiro, o que, convenhamos, não é pouco. Os americanos tiveram Truman Capote, Gay Talese, Norman Mailer, até E.L. Doctorow. Pois o Ruy mergulha na vida de Garrincha. E era sobre o mago Garrincha que ele queria saber alguns detalhes, infelizmente fora do meu alcance.
Nos tempos de Garrincha, eu não passava de mero espectador, atento, é verdade, mas mero espectador. Nessa época, por volta de 66, quando Mané veio para o Corinthians, minhas vítimas eram o Chico Buarque, o Caetano, o Gil, esses craques da poesia e da música popular. Portanto, pouco pude acrescentar ao trabalho do amigo sobre a passagem de Garrincha por São Paulo, já em fim de carreira.
Só sei que esse pássaro mágico jamais teria alçado seu vôo histórico se Julinho não tivesse ido para a Europa, uns dois anos antes da Copa de 58. Ele teria sido o titular absoluto da ponta-direita. E, certamente, brilharia tanto quanto.
Mas não foi nem para Garrrincha, nem para Julinho que a bola rolou nesse papo. Ela ficou numa dividida entre De Sordi e Djalma Santos; no rebote, sobrou para Virgilli, o atacante italiano que, na excursão brasileira de 56, enfiou três bolas nas redes de Gilmar, todas em cima de De Sordi, deslocado para a zaga central.
Virgilli "Pecos Bill" era um centroavante rompedor, tosco, mas infalível, sobretudo heróico. Por isso mesmo, recebeu o apelido do primeiro herói de histórias em quadrinhos italiano. Por isso, e pela semelhança física com o pioneiro dos westwern-spaghetti, capaz de saltar o Grand-Canyon com seu cavalo alado com a mesma desfaçatez com que Rocky Lane desarmava dois bandidos com um só tiro.
Suas feições eram escalavradas numa máscara eslava, maçãs salientes, queixo rombudo; olhos azuis e uma mecha de cabelo loiro escorrendo em diagonal pela testa. Mais ou menos como Chuck Connors, o "Homem do Rifle", de quem Kruschev revelou-se fã na sua célebre visita aos EUA, em plena Guerra Fria.
Lembro de Virgilli porque o Ruy Castro me levantou uma dúvida histórica: será que, em 58, De Sordi não estava em melhor forma do que Djalma? De Sordi estava, sim, em magnífica forma, mas Djalma, na época, antes e depois, sempre esteve acima desse detalhe. Jogou apenas a decisão contra a Suécia, e foi considerado o melhor lateral da Copa por toda a imprensa presente a Estocolmo. Só isso já não é uma resposta definitiva?

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