São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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O rock da Inglaterra acabou e já era hora de isso acontecer

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A cada 15 minutos, aparece uma fofoca diferente. Na imprensa musical inglesa, então, nem se fala. Quando eu lia religiosamente o "New Music Express" e o "Melody Maker" toda semana, ficava bobo de ver como pipocavam umas 20 novas bandas por semana. Será que inglês não faz outra coisa? A impressão é que nenhum adolescente da Grã-Bretanha pensava em ser médico, professor, jornalista ou torneiro mecânico; todo mundo queria ter banda.
Uns meses atrás foi a vez do Oasis. A melhor banda dos últimos dez anos, a salvação da lavoura e o diabo. O hype durou. O da estréia do Oasis levou quase tudo nas votações de crítica (e leitores também) da Inglaterra. Como sempre, muito crítico do mundo afora comprou essa história (se bem que não dá para reclamar: uns cinco anos atrás, nove entre dez críticos de rock do brasil copiavam literalmente o que liam na imprensa inglesa).
Minha conclusão: ou todos esses ingleses são surdos, ou ninguém lá tem mais de 12 anos, ou as duas coisas. Primeiro, porque Oasis absolutamente não tem nada de mais, é só mais uma bandinha. Segundo, porque essa "só mais uma bandinha" é uma versão revista e bem piorada de um monte de outras bandinhas louvadas pela crítica babona do mundo inteiro.
Não estou sendo saudosista ou arrotando vantagem, tipo "vocês são uns moleques que não conhecem o passado". Tudo bem repetir o passado, estão aí bandas boas como Black Crowes revisitando o passado e fazendo uma coisa legal. Originalidade não tem nada a ver com rock, sabemos todos. O problema é que o Oasis nem chega a ser cópia do que já passou, nem chega a ser ruim. O Oasis não é nada. É inodoro e incolor. Não tem absolutamente nada que diferencie a banda do pântano em que a cena inglesa se tornou.
Para você ter uma idéia do nível lamentável em que a coisa chegou, ano passado uma revista americana deu na capa "O Fim do Rock Inglês". Sabe quem eles falavam que podia salvar o som britânico? O James, uma banda que tem dez anos, maior lixo sub-Smiths.
Pensando bem, com cuidado mesmo, a última coisa inglesa que eu ouvi e realmente me fez cair para trás foi "Never Understand", aquele pesadelo de microfonia do Jesus & Mary Chain. Ou estou exagerando? É provável... mas no momento não me ocorre mais nada.
O negócio é se ligar no submundo dance-trance-tecno-jungle-ambient, que é o que a Inglaterra está fazendo maravilhosamente bem. Mas não faço a menor questão de ouvir mais um disco de estréia que venha da Inglaterra na minha vida. Chega.

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