São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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A roda da fortuna

O Banco Mundial acaba de divulgar estudo sobre financiamento externo para países em desenvolvimento que traz duas boas notícias para o Brasil e uma ruim.
Começando pelo pior: a torrente de dinheiro que, a partir do início da década, se dirigiu aos países em desenvolvimento tende a conhecer uma desaceleração. Aliás, já houve, em 1994, uma diferença notável na comparação com o ano anterior.
Em 93, os países em desenvolvimento receberam cerca de US$ 159 bilhões, ou 55% mais do que em 92. Mas, em 94, os fluxos aumentaram apenas 8,8%, atingindo o patamar de US$ 172,9 bilhões.
O relatório deixa claro que é remota a hipótese de que ocorra uma reversão na tendência de os investidores internacionais irrigarem com recursos os países em desenvolvimento. Já é em si uma boa notícia.
Mais importante é a perspectiva de continuidade nos investimentos diretos, em tese os mais saudáveis, e que já representam cerca de 40% do total de recursos dirigidos aos países em desenvolvimento.
Em 93, os investimentos diretos chegaram a US$ 66,6 bilhões, mas permanecem extremamente concentrados em algumas áreas. A principal delas é a Ásia Oriental, o território dos "tigres". Recebeu a maior fatia do bolo (55%). Depois vem a América Latina, com 24%.
No caso do Brasil, entretanto, os investimentos diretos chegam, a rigor, a conta-gotas, não tendo passado de US$ 4,1 bilhões no período 90/93. México e Argentina, embora sejam economias de menor porte, receberam volumes bem mais elevados (US$ 16,6 bilhões e US$ 14,7 bilhões, respectivamente).
É importante fazer duas ressalvas. A primeira delas é a de que o relatório aponta os investimentos, país por país, apenas até 93, ano em que o Brasil vivia uma situação de superinflação, obviamente pouco atraente para qualquer tipo de investimento. E, o segundo, é o de que o relatório foi fechado em novembro, antes, portanto, da crise mexicana, que já teve fortes efeitos no movimento de capitais e tende a gerar ainda novos desdobramentos.
De todo modo, parece claro que as perspectivas de investimentos internacionais nos países em desenvolvimento são hoje menos promissoras do que eram quando México e Argentina iniciaram seus processos de ajuste. Se o Brasil tem a vantagem de poder aprender com os erros desses países, terá também que construir sua estabilização num ambiente externo mais arredio.

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