São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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PT: o efeito positivo de perder

FLORESTAN FERNANDES

Um partido como PT forma-se, expande-se e pode chegar ao poder desempenhando seus papéis normais na oposição.
Para isso é preciso que as correntes internas –à esquerda, no centro ou à direita do partido– não percam ou não comprometam sua identidade operária ou socialista.
Nas condições atuais, impõe-se, como condição sine qua non, que se distingam as técnicas de negociação sindical das suas técnicas de confronto político.
Os líderes sindicais evoluíram do acoplamento ao Estado e do peleguismo para posições independentes e de conflito aberto com os capitalistas.
Esse processo não atingiu, igualmente, todas as categorias. Mas foi suficiente para que os patrões assumissem disposições duras de ataque.
Até conseguiram impor, em anos recentes –sob a recessão, a inflação, o desemprego e o rebaixamento de salários– atitudes conciliatórias que ganharam espaço demais e difundiram idéias suicidas de negociação entre elevado número de dirigentes sindicais.
O PT tolerou essa deformação do sindicalismo, acabando por racionalizar ajustes aviltantes como manifestações de crescimento da democracia.
Enquanto isso, aproveitou tanto as insatisfações, quanto o conformismo para seus próprios fins de ocupar o poder ou de ampliar seu potencial de pugna parlamentar.
Os resultados das eleições devem ter ensinado ao PT que ele tem de bater-se pelo poder político. Mas bater-se contra quem e com que aliados?
Sobe à tona a questão central: a sua função imediata volta-se para a socialização política dos trabalhadores, dos subalternizados e excluídos, da pequena burguesia em proletarização, dos radicais das classes médias e dos que possuem uma consciência crítica indignada.
Sua bússola nasce da natureza espoliativa do capital, das desigualdades sociais degradantes e do despotismo patronal.
Um partido de trabalhadores e socialistas não arrebata dos privilegiados mais do que promessas e opressão.
O interesse dos patrões no programa do PT e na personalidade de Lula não cedia à tentação de cooperar com um candidato capaz de representar uma alternativa para o Brasil, na situação do capitalismo automatizado, robotizado e que só pode desenvolver-se nos centros do imperialismo.
Queriam conhecer mais e melhor para organizar suas forças para a vitória.
A campanha e a votação de Lula são índices de inconformismo que estão emitindo sinais de tensões reformistas e revolucionárias no íntimo de nossa sociedade.
Eles iluminam o campo da esquerda, inclusive e principalmente o do PT; e mostram que a luta de classes acirrou-se de modo latente. Concessões "democráticas" e "social-democráticas" precisam ser repelidas, em benefício do próprio PT e da construção de uma sociedade nova, antípoda do mundo em que vivemos, assolado pela miséria, a fome, a exploração e a ignorância dirigida de cima.

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