São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Telenegócios

JANIO DE FREITAS
TELENEGÓCIOS

A péssima qualidade dos serviços da Telerj recebeu ontem um agravamento inesperado pelos usuários, sob a forma de paralisação dos funcionários, e portanto de numerosos serviços, por duas horas. Foi a reação inicial à providência do Ministério das Comunicações de cortar, repentinamente, um terço dos R$ 6 de vale-refeição e suspender a ajuda médico-odontológica e outros benefícios menores. Tudo, de acordo com as concepções do novo governo, para contenção de gastos.
Contenção em termos, bem entendido. Enquanto os cortes se abatem sobre os funcionários que ainda conseguem manter o arremedo de empresa telefônica, estão autorizadas as providências para a consumação final de um dos negócios mais repulsivos dos últimos tempos: o de um prédio no centro do Rio para sediar a Telerj, que tem sede própria e boa.
Dona de valioso terreno na modernosa avenida Chile, no governo Collor a Telerj fez um contrato exótico para a construção associada pela Encol e pelos fundos de pensão Sistel e Previ, ficando obrigada a comprar os andares que couberem à construtora e alugar os dos fundos de pensão. Foi uma transação tão imoral que José de Castro Ferreira, presidindo a Telerj na segunda metade do governo Itamar, recusou-se a dar cumprimento ao contrato, com as transações complementares e a mudança. No apagar do governo passado, o então ministro Djalma Moraes aproveitou a exoneração antecipada de Castro Ferreira e cedeu aos interesses ansiosos pela compra e aluguel planejados. O atual ministro das Comunicações, Sérgio Motta, manteve a autorização, pode-se presumir que pelos mesmos motivos do antecessor.
A mudança desnecessária, imaginada só para proporcionar o negócio escabroso com o terreno e o prédio, vai custar uma fortuna. No final, com certeza, dezenas de milhões, dada a necessidade de fazer novas torres de transmissão, gigantescas instações elétricas e eletrônicas, o diabo. Os três custos mencionados em um relatório recente, e não são os maiores, já somam quase US$ 6 milhões. Só "os biombos e divisórias foram orçados em US$ 4 milhões". Imagina-se o que custará o equipamento caro.
Está explicada a contenção de gastos com vale-refeição e assistência médico-odontológica dos funcionários. Tem perfeita coerência com o veto ao salário mínimo que igualasse o custo da cesta básica.

Hora de rigor
Dois casos que merecem o tratamento mais rigoroso possível, sem qualquer complacência: o de remédios adulterados e o dos loteamentos em terrenos de Brasília pertencentes ao patrimônio público.
O ministro Adib Jatene quer processos criminais contra os donos e responsáveis pelos laboratórios de remédios adulterados. Para a tradição brasileira, já é muito. Mas ainda é pouco: é preciso dar um jeito de sequestrar os bens adquiridos por aquela corja e impedi-la de exercer atividade de interesse público.
Pode haver outros motivos para o silêncio de quase todos os meios de comunicação sobre os loteamentos-invasões de Brasília –motivo de revelações solitárias do "Correio Braziliense"–, mas entre eles está a quantidade de jornalistas compradores de terrenos. Acontece que ninguém comprou esses lotes em plena ingenuidade. Tão abaixo do mercado, os preços já eram uma indicação inequívoca de tramóia. E havia outras, como a papelada imperfeita.
Ainda não estão claras as medidas que o governador Cristovam Buarque adotará, mas nada há que justifique qualquer complacência. Afinal, trata-se de patrimônio público, que assim deve continuar.

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