São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Fanáticos e fãs dividem porta de hotel

DA REPORTAGEM LOCAL

A "maior banda do mundo" tem o menor número de tietes de plantão da história do Hollywood Rock. Só seis pessoas passaram a noite na porta do Maksoud Plaza e resistiram até a chegada de Mick Jagger, às 8h33.
Menos de 20 pessoas estiveram ontem na porta do hotel. Uns poucos eram fanáticos e a maioria estava lá só pelo prazer da tietagem.
À meia-noite, os únicos fãs eram os estudantes Andréia Farias, 18, e Alex Quagliato, 21. Alex disse ser normal a falta de tietes femininas no local. "Mick Jagger não é símbolo sexual. Só se ele foi símbolo da minha mãe."
Mais animados que os fãs, membros da seita cristã "Amores de Abrajó – Filhos da Liberdade" passaram o fim da tarde de ontem entoando cânticos contra os Stones na porta do hotel Maksoud Plaza. Eles prometem continuar os protestos na porta do Pacaembu durante os shows da banda.
"Vestimos sacos de silício, como os profetas cristãos da antiguidade", diz Sosanim Cântico, 30. Ela afirma que a seita agrega 20 pessoas em Osasco e trabalha há cinco anos na "regeneração" de jovens. O grupo, de seis mulheres, com seios à mostra, e quatro homens, vestia tangas brancas por baixo dos sacos furados e manchados de vermelho e empunhava três violões e cartazes de protesto.
"Enquanto o mundo ora pelos mortos do Japão, Bósnia e Tchetchênia, aqui estão louvando os filhos de Satanás", dizia um cartaz.
Na hora da chegada de Jagger, cinco fãs se juntaram ao grupo que ainda estava de plantão e apareceram pessoas nas janelas dos prédios vizinhos. Ninguém conseguiu sequer avistá-lo de longe.
Rita Gemiani, 25, e Michele Lopes, 24, se mostraram as fãs mais ardorosas. Desde cedo, tentavam entrar no hotel, dizendo-se jornalistas free-lance de uma revista semanal.
"Nossa coordenadora, a Lúcia McCartney, ficou com as credenciais no Pacaembu", disse Gemiani, de minissaia preta e rosto muito maquiado.
Desistiram de tentar entrar e foram embora às 10h50. Voltaram às 14h30, com uma lista de 11 perguntas "encomendadas pela revista", como "A (sic) quanto tempo você é fã dos Stones?", "Pretende fazer vigilha (sic) aqui no hotel?"
Dizendo que iam almoçar, entraram no hotel, deixando a lista de perguntas para trás.
O carioca Nelson Pessanha, 42, era um dos poucos fãs "das antigas" no Maksoud. Chegou às 5h30 de ontem, vindo de Teresópolis (RJ). O esforço parece ter valido a pena: "Quase fui atropelado, mas valeu. Nem cheguei mais perto porque fiquei maravilhado."
Os irmãos Fábio, 21, e Ricardo D'Ottaviano, 19, chegaram à porta do hotel atrasados, depois que Jagger já havia entrado. Mas garantiam ter autógrafos antigos do ex-guitarrista Mick Taylor e do baterista Charlie Watts.
"Entreguei uma nota de CR$ 10 mil, que o Watts autografou, e disse 'It's only Charlie Watts but I like it"', conta Fábio.

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