São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Spin Doctors tem aula de show com os Stones

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Grupo tem aula de show com Stones
"Nosso trabalho é esquentar o público para eles"
O Spin Doctors não só se encontra na circunstância de ser o grupo americano –meio anônimo– que faz a abertura dos cinco shows dos Rolling Stones no Brasil; ele se veste para o papel.
O grupo chegou ao Brasil às 8h30 de ontem, vindo de Nova York. Largou as malas no hotel Maksoud Plaza e se dirigiu, direto, ao auditório do hotel Crowne Plaza, onde deu entrevista coletiva à imprensa.
Mais simpáticos do que a maioria das estrelas que costumam vir ao Hollywood Rock, com jeans, camisetas, rabos de cavalo/cabelo curto, os integrantes do Spin Doctors têm apenas uma característica marcante: a normalidade. Os quatro músicos podem muito bem se confundir com o público do Hollywood Rock. São até mesmo fãs dos Stones.
Chris Barron, que chegou a usar um cabelão e cavanhaque "grunge" (o estilo bode), está de barba feita e cabelo cortado. "Costumava ter uma resposta pronta para isso", ele diz, parando alguns segundos para criar um clima. "Sim, desta forma posso usar aquelas colônias pós-barba bacanas."
A carreira do Spin Doctors pegou no tranco. O público demorou a se ligar no disco "Pocket Full of Kryptonite", que saiu em agosto de 91. Foi só no início de 92 que a música "Two Princes" estourou de tanto passar na MTV. Depois vieram um disco ao vivo ("Homebelly Groove") e o LP "Turn It Upside Down", que não repetiram a novela de sucesso instantâneo.
Mas pouco importa que o grupo tenha vendido mais de cinco milhões do LP "Pocket Full of Kryptonite" nos EUA e sido capa da revista "Rolling Stone". O circo é todo dos Rolling Stones e o Spin Doctors está feliz com a parte que lhe cabe.
"Nosso trabalho é aquecer a platéia para eles", diz Barron, que abriu 12 shows da turnê americana dos Stones. "Geralmente, não gostamos de abrir para outros, mas para a 'Melhor Banda de Rock do Planeta' é diferente".
O baterista Aaron Comess conta que não viram nenhum show dos Stones que fosse melhor ou pior que o outro: "A variação de qualidade é mínima. Eles são muito consistentes. Os shows são uma aula de rock'n'roll."
A maior lição que aprenderam com os professores foi o "timing". "Pegamos a manha dos picos", conta Barron. "Se você quer manter o público ligado, a manha não é agitar o tempo inteiro, porque vira um tédio. O negócio é fazer três ou quatro picos com as melhores músicas e entre eles ter umas músicas lentas porque, ao dormir, o público só vai lembrar dos picos".
O falante Barron se diz fã de carteirinha: "Eles são meus heróis absolutos".
"No princípio, rolou timidez". Como o convite para os shows tinha sido feito por telefone, as bandas não se conheciam. "Mas aí", conta Barron, "o Keith (Richards) nos chamou: 'Pô, vocês ficam aí encolhidos', e passamos a frequentar a 'Voodoo Lounge' e a 'Sala de Afinação', que ficam na parte dos bastidores dos Stones. Por sinal, nunca vi ninguém afinar nada na 'Sala de Afinação', a não ser o cérebro".
Expectativas para o Brasil? "Agradamos os fãs dos Stones nos EUA", diz Barron. "Aqui, deve ser o mesmo."
Sobre ser um grupo criado em torno do "hype" da MTV, que pode cair no esquecimento a qualquer momento, Chris diz que todas as bandas passam por um período de modismo e nem os Beatles, no auge, sabiam o que poderia acontecer no dia seguinte.
"Para nós, o importante é gravar nossos discos."
O novo guitarrista, Anthony Krisan, que este ano estréia em disco com os Spin Doctors, diz ser da "mesma praia" de Eric Schenkman, o ex-guitarrista, e por isso as músicas novas tem o mesmo pique das primeiras gravações. Ao menos duas músicas inéditas farão parte do repertório.

Texto Anterior: Fanáticos e fãs dividem porta de hotel
Próximo Texto: Vocalista diz que quer conhecer mulheres
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.