São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Clinton prevê crise sem ajuda ao México

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O presidente norte-americano Bill Clinton advertiu ontem que ou os Estados Unidos completam a operação de salvamento da economia mexicanana ou a crise se espalhará, "com graves consequências para o México, a América Latina e para todos os países em desenvolvimento".
A advertência foi feita em discurso transmitido por TV para o Fórum Econômico Mundial, cuja 25ª edição se instalou ontem, na cidade suíça de Davos.
O discurso parecia destinado muito mais ao público interno do que aos governantes, empresários e acadêmicos que o ouviam e viam no telão do Centro de Congressos de Davos.
Clinton está empenhado em conseguir do Congresso norte-americana a aprovação de um pacote de créditos no valor total de US$ 40 bilhões, para estabilizar a economia mexicana.
Como se estivesse se dirigindo aos congressistas, que parecem cada vez mais renitentes, o presidente tratou, por exemplo, de afastar a imagem, muito difundida na mídia norte-americana, de que o dinheiro vai ajudar não o México, mas os investidores norte-americanos, às custas do Tesouro.

Solução criativa
Clinton disse que o pacote é uma solução "criativa e sem precedentes", que se destina também a salvaguardar "centenas de milhares de norte-americanos cujo meio de vida está amarrado ao bem-estar mexicano".
O presidente garantiu que "os fundamentos (da economia mexicana) são fortes" e que o país tem plenas condições para crescer e cumprir as obrigações já contraídas.
O esforço da administração norte-americana para salvar a economia mexicana da crise aberta com a desvalorização do peso, em dezembro, parece de fato sem precedentes.
Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, foi ontem pelo segundo dia consecutivo ao Congresso, para defender o pacote.
Greenspan está usando exatamente o mesmo tom apocalíptico de Clinton para definir as consequências de uma eventual rejeição do plano de ajuda ao México.
Disse que, se a crise não for contida, vai-se espalhar para outros mercados emergentes e "paralisar ou até reverter a tendência global para reformas orientadas para o livre-mercado e para a democratização".
Até o Japão, habitualmente hipercauteloso em envolver-se nesse tipo de operação, anunciou ontem disposição para colaborar financiamente com o México.
O argumento é o mesmo de Clinton e Greenspan: o risco de alastramento da crise.
Parece uma avaliação consensual. Em "paper" especialmente preparado para o Fórum Econômico Mundial, o grupo de pesquisas político-econômicas britânico Oxford Analytica diz:
"A desvalorização (do peso mexicano) vai lançar uma grande sombra sobre a região (América Latina) como um todo, abalando a confiança dos investidors e obrigando os governos a reduzir seus déficits externos".

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