São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Organização propõe globalizar democracia

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Pelo menos um ensaio de resposta para os riscos da globalização da economia foi oferecido ontem em Davos: globalizar também a democracia, por uma revolução nas estruturas das Nações Unidas.
A proposta foi apresentada pela chamada Comissão sobre Governo Global, uma espécie de ONG criada há dois e cujo relatório ("Nossa Vizinhança Global") foi lançado ao se abrir o Fórum Econômico Mundial.
Uma das propostas de reforma da ONU visa, exatamente, criar um Conselho de Segurança Econômica, a exemplo do já existente Conselho de Segurança, que funciona apenas no plano político e eventualmente militar.
O Conselho seria "um foro de alto nível para coordenar as políticas das instituições de Bretton Woods e fornecer um meio ambiente mais estável para o desenvolvimento sustentado", disse o premiê sueco Ingvar Carlsson, um dos dois co-presidentes da Comissão, ao apresentar o documento.
As instituições de Bretton Woods, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, perderam crescentemente poder de coordenar políticas econômicas.
A proposta inclui aumentar de 15 para 23 o número de membros do Conselho de Segurança, no qual reside o verdadeiro poder na ONU. Cinco dos oito novos membros seriam permanentes– dois dos países industrializados, um da Ásia, um da África e outro da América Latina.
O Brasil há tempos vem defendendo um lugar permanente em um eventual Conselho de Segurança ampliado.
A proposta de democratização global foi apresentada por Carlsson como a alternativa para uma de duas hipóteses negativas: "Ou permitimos que uma ou duas superpotências decidam pelo resto do mundo, ou simplesmente podemos deslizar para a anarquia".
A proposta foi encampada pelo secretário-geral da ONU, Boutros Boutros Ghali, no discurso com que inaugurou o Fórum.
Ghali apontou a democratização das estruturas globais como uma necessidade ante uma constatação hoje quase consensual: "Está claro que, em uma sociedade que se está tornando global, a margem de manobra para os responsáveis por decisões nacionais fica diminuída".
O secretário-geral reconheceu que as empresas transnacionais "são hoje um repositório básico de poder em escala planetária" e sugeriu que os homens de negócio passem a fazer parte da democratização global.

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