São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Fantasma de colapso financeiro assombra Fórum

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O fantasma de um colapso financeiro global assombrou os salões do Centro de Congressos de Davos, ao se abrir ontem a 25ª edição do Fórum Econômico Mundial.
Fantasma tão potente que o ex-primeiro-ministro francês, Raymond Barre, também relator-geral do Fórum, chegou a dizer que talvez fosse necessário ocorrer um "crash financeiro global" para que os líderes mundiais reagissem.
George Vassiliou, presidente de Chipre entre 88 e 93, lançou, por sua vez, uma catilinária contra o livre movimento de capitais especulativos. "Tem um efeito terrivelmente desestabilizador", disse.
Até o presidente dos EUA, Bill Clinton, em mensagem por TV ao Fórum, reconheceu que "mercados que reagem em 24 horas podem responder com crueldade".
É evidente que esse fantasma tem nome: México. A crise mexicana mexeu em profundidade com o jogo das finanças internacionais.
Barre contou a avaliação que ouviu de um interlocutor não-identificado: "No passado, os gerentes dos fundos de investimento eram gente racional e conservadora. Hoje, são jovens que manejam satélites e computadores e podem construir uma fortuna de manhã, perdê-la à tarde e ganhá-la de novo na manhã seguinte", relatou.
O ex-premiê introduziu, em todo o caso, uma nota de relativo otimismo, ao manifestar a certeza de que se pode corrigir a situação mexicana. O problema agora é evitar que o estrago se espalhe, probabilidade real a julgar pelas avaliações que se fazem em Davos.
Em cerca de 36 horas, a partir das 9h de sábado (6h em Brasília), o presidente Carlos Menem e seus ministros de Economia, Domingo Cavallo, e do Exterior, Guido di Tella, falarão cinco vezes a jornalistas, empresários e acadêmicos.
O Brasil mandou apenas uma ministra, Dorothéa Werneck (Indústria, Comércio e Turismo), que almoça sábado com empresários para falar do "Novo Brasil".
Talvez seja o suficiente para mostrar que o Brasil não é o México, se prevalecer a opinião de Antônio Monteiro de Castro, presidente da Souza Cruz brasileira: "O México mostrou que o Brasil não pode continuar fazendo o que o México fazia antes da crise".
Se é assim, o fantasma também pode ter função pedagógica.
(CR)

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