São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Empresário adverte para risco do déficit

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, Lawrence Woerner, afirmou ontem que "o Brasil não pode se dar ao luxo de operar com déficit comercial" e que o congelamento da taxa cambial já tem feito exportadores perderem contratos.
Woerner presidiu ontem em São Paulo, no hotel Transamérica, um almoço de uma centena de empresários para uma troca informal de idéias sobre os problemas enfrentados pelo Plano Real.
Mesmo otimista –"o real tem tudo para dar certo"– ele disse que "a mensagem que vem do México não poderia ser mais oportuna", para que se adotem, sem demora, as correções necessárias ao modelo brasileiro.
O economista e consultor Paulo Rabello de Castro, convidado para fazer um longo diagnóstico, disse que "a novela mexicana não terminará tão cedo". Contrariamente ao que afirma a equipe econômica do governo, a seu ver a receita de estabilização no Brasil "é idêntica à mexicana".
A grosso modo, tratava-se de equilibrar as contas públicas com base no fluxo de dinheiro externo e procurar financiar o desequilíbrio a curto prazo com recursos obtidos pela privatização.
"Bendita hora em que somos colocados diante de um alerta no início do processo", disse. "O Brasil tem tudo para dar certo, mas só se conseguir gerar poupança interna".
Uma das maneiras de fezê-lo consistiria em aproveitar a reforma previdenciária para que o assalariado se torne proprietário de uma poupança-pecúlio, cujos fundos fariam dele um "sócio capitalista do desenvolvimento nacional".
Seria essa uma maneira de se obter os bons resultados que hoje beneficiam o Chile, cujo crescimento pouco depende do fluxo externo de dinheiro.
Em termos de conjuntura, Rabello de Castro disse que o ponto nevrálgico do atual modelo é o câmbio. Desvalorizar abruptamente o real seria desastroso, mas manter sua paridade com relação ao dólar significa continuar suprimindo empregos e desarmando o potencial exportador.
Indagado sobre qual seria hoje a verdadeira paridade do dólar, disse haver duas respostas. A primeira, que leva em conta a inflação norte-americana e a inflação brasileira calculada pelo IPA (preços no atacado da Fundação Getúlio Vargas), revela que a moeda brasileira está no exato ponto em que se encontrava no início de 1974.
A segunda, que leva em contra o IGP, indicaria, ao contrário, que o dólar estaria 40 pontos percentuais abaixo de seu patamar de 1974. A cada um a possibilidade de escolher qual o cálculo verdadeiro ou mais conveniente.
Em resposta a outra pergunta, Castro disse que ninguém dispõe de elementos para aferir a situação dos bancos estaduais. "É um sistema opaco, com baixo nível de informação", afirmou.
Ele acredita que o problema não se resolverá com mais uma operação de socorro, mas sim com a própria mudança do sistema.

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