São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995 |
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'Cidade Partida' vira filme e minissérie
DANIELA RIBEIRO
A entrevista com o principal personagem do livro "Cidade Partida", do jornalista Zuenir Ventura, não mais pôde ser feita. A produtora comprou os direitos do livro em novembro de 94 e vai transformá-lo em filme e em um documentário para TV, com direção de Roberto Berliner, 37, e produção de Renato Pereira, 35. As filmagens de "Cidade Partida" vão gerar dois produtos: um filme e uma minissérie para TV. Pereira e Berliner estão terminando de escrever o projeto para apresentá-lo a possíveis patrocinadores e co-produtores. A dupla assina há quatro anos comerciais, clipes musicais (Paralamas do Sucesso, O Rappa) e documentários ("God for All", lançado este mês) encomendados pelo Iser e clientes da produtora. No dia da morte de Flávio Pires da Silva, o Flávio Negão, Berliner percorreu o mesmo caminho dos repórteres, indo a dois hospitais, até encontrar o corpo do traficante no Instituto Médico Legal. Mas foi o único que obteve autorização da família para filmar o enterro. A autorização foi resultado do seu convívio de quase um ano com o cotidiano dos moradores de Vigário Geral, favela que era dominada pelo traficante. Enquanto os jornalistas acompanhavam de longe o velório, a equipe filmava o caixão por trás do ombro da mãe de Flávio Negão, um dos líderes do tráfico no Rio. Uma das imagens registradas pelo filme e que mais impressionou Berliner foi o grande número de pessoas que, emocionadas, se aproximavam do caixão e acariciavam o cadáver do traficante. "É incrível como estamos distantes da realidade. Nós nos fechamos na zona sul e esquecemos de uma grande parte da cidade, onde moram nossos porteiros, nossas empregadas domésticas e a barra-pesada que eles vivem", diz Berliner, morador da zona sul. A idéia de comprar os direitos do livro de Zuenir Ventura surgiu pela coincidência de intenções entre o projeto de Berliner e o relato do escritor. Para escrever o livro, Ventura conviveu dez meses com os moradores de Vigário Geral. Seu texto mostra a separação entre os mundos da favela e do resto da cidade. Em comum, livro e filme fazem a apresentação de personagens que simbolizam as alternativas para quem vive na favela: o bandido Flávio Negão, seu irmão Djalma, "trabalhador", Boi, o funkeiro que se converteu à igreja evangélica, e Caio Fábio, o sociólogo. Além do enterro, a equipe registrou as primeiras operações do Exército, incluindo a maior apreensão de armas e drogas da Operação Rio, em Vigário Geral. Mas o filme não terá apenas violência na favela. Trabalho, diversão e depoimentos dos favelados também serão mostrados, assim como a zona sul. "Talvez a parte mais difícil seja esta, a de retratar a zona sul," diz o produtor Renato, morador da área. Ele pretende filmar os "safáris urbanos", excursões promovidas por condomínios da Barra da Tijuca para que os moradores conheçam a cidade em segurança. Até agora, foram rodados 80 minutos em 16 mm e oito horas em Betacam e High-8, de fatos que têm que ser registrados pela equipe, mas ainda não há roteiro. Ele deve ser escrito em conjunto com o jornalista Zuenir Ventura, convidado a participar. Texto Anterior: CBL abre as inscrições ao Jabuti em 15 categorias Próximo Texto: Área teatral quer juro subsididado na cultura Índice |
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