São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Cerimônia paralela reúne mil em Auschwitz

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mais de mil pessoas se reuniram ontem para homenagear o 1,5 milhão de pessoas mortos no campo de extermínio nazista de Auschwitz-Birkenau (Polônia), onde funciona um museu desde 1947.
Eles repetiram o caminho dos prisioneiros e se concentraram no local onde funcionaram as câmaras de gás e os fornos crematórios, numa manifestação extra-oficial para marcar o 50º aniversário da libertação do campo.
Maior campo de extermínio nazista, Auschwitz foi libertado pelas tropas da União Soviética em 27 de janeiro de 1945.
Os participantes da marcha de ontem caminharam com bandeiras de mais de 30 países ao longo da ferrovia pela qual milhares de pessoas foram levadas até o campo dentro da vagões de carga. Eles foram acompanhados pelo presidente da Alemanha, Roman Herzog.
"Deus do perdão, não perdoe esses assassinos de crianças judias", disse em discurso Elie Wiesel, sobrevivente de Auschwitz e vencedor do Prêmio Nobel da Paz.
"Lembre as procissões noturnas de crianças e mais crianças e mais crianças, apavoradas, quietas, tão quietas e tão belas."
A marcha foi liderada por gêmeos usados em experiências pseudocientíficas pelo médico do campo Josef Mengele –cujo corpo foi identificado no Brasil.
Os participantes ficaram em silêncio enquanto um cantor declamava os nomes dos campos de extermínio nazistas. O "Kaddish" (oração judaica dos mortos) também foi recitado.
Na abertura oficial dos dois dias de eventos em Cracóvia, o presidente da Polônia, Lech Walesa, denunciou as atrocidades nazistas e disse que nunca poderá compactuar com o totalitarismo.
Vários grupos judaicos vêem com suspeita as comemorações oficiais, que, segundo eles, minimizam os sofrimentos dos judeus.
"Cinquenta anos atrás 90% dos que morreram aqui eram judeus. Então deveriam dar importância maior aos mártires judeus. Não virei amanhã", disse Jean Kahn, do Congresso Judaico Europeu.
Chefe da delegação norte-americana, Wiesel não participou da cerimônia de Cracóvia.
O rabino norte-americano Avi Weiss, detido brevemente pela polícia por se recusar a sair de uma igreja católica à beira do campo, participou da cerimônia judaica.
As autoridades polonesas rejeitaram os argumentos dos líderes judaicos, mas disseram entender suas razões. A controvérsia reviveu a discussão sobre o papel dos poloneses no massacre dos judeus.
Representante do memorial Yad Vashem, de Israel, Izrael Gutman tentou relativizar as críticas e afirmou que os poloneses não são responsáveis pelos assassinatos.
Representante oficial de seu país, o presidente do Parlamento israelense, Shevach Weiss, lamentou que as relações entre judeus e poloneses sejam tão tensas.
Nascido na Ucrânia em 1935 e protegido por duas famílias polonesas e uma ucraniana durante a Segunda Guerra, Weiss disse "sentir e amor e ódio ao mesmo tempo quando visita a Polônia".
"Vocês têm de compreender que 6 milhões de judeus foram assassinados, 4,5 milhões em solo polonês, dos quais 3 milhões eram judeus poloneses. Por isso existe em Israel o preconceito de que a nação polonesa os assassinou, apesar disso não estar correto. Muitos poloneses têm sua árvore na Alameda dos Justos (homenagem em Jerusalém aos não-judeus que salvaram judeus durante a guerra)."
O chanceler (priemiro-ministro) Helmut Kohl, afirmou que Auschwitz foi o capítulo mais negro e terrível da história da Alemanha.
No Parlamento alemão, a presidente Rita Suessmuth disse que o "crime de Auschwitz não se comparara a nada".
Na terça, bispos alemães reconheceram a existência de "posturas antijudaicas no âmbito do clero, que contribuíram para que os cristãos não oferecessem nos anos do Terceiro Reich a devida resistência ao racismo anti-semita".

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