São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Indústria vai investir R$ 1,2 bi na região

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Grande ABC já atraiu neste ano R$ 1,230 bilhão de investimentos diretos. O valor equivale a 18,4% dos R$ 6,680 bilhões que indústrias em geral prometeram injetar no Estado de São Paulo. É quase cinco vezes maior do que o investimento da Volkswagen em sua fábrica de Resende, no Rio
Investimentos diretos são aqueles que vão para a produção. Por exemplo, a construção ou expansão de uma fábrica.
Esses números foram consolidados na semana passada pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.

Exterior
A Folha publica (leia acima) com exclusividade uma tabela com todos os investimentos confirmados neste ano, empresa por empresa, no Estado de São Paulo.
``Falam que São Paulo fica atrás na preferência do dinheiro estrangeiro e esse quadro prova o contrário. Nenhum Estado consegue chegar perto em volume de investimentos", diz Emerson Kapaz, o secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico.
Além da comemoração do secretário paulista, esses investimentos produtivos permitem análises concretas sobre a economia do Estado. E colaboram para demolir mitos construídos a partir do final dos anos 80 para o ABC.

Mitos
Um desses mitos era que o ABC seria rapidamente sucateado com o desenvolvimento do país. As indústrias ali instaladas há mais de três décadas não conseguiriam acompanhar o avanço tecnológico de outras regiões.
Continua sendo impossível prever se o ABC voltará a ser o paradigma de desenvolvimento do Brasil, como nos anos 60 e 70.
Mas uma leitura da lista de investimentos demonstra que a região não está sendo sucateada. Nem sendo abandonada pelas principais indústrias que construíram ali a sua base.
As indústrias consideram impraticável economicamente abandonar a região, com toda a infra-estrutura montada ao longo de quatro décadas.

Automóveis
A quarta empresa que investirá na no ABC é a norte-americana Wal Mart, do setor de varejo. Uma das mais bem sucedidas empresas do mundo jamais cometeria erro grave de escolher um local decadente para depositar US$ 100 milhões na construção de suas lojas.
A primeira loja da Wal Mart já começou a funcionar em São Caetano este ano.

Pólo
Já uma outra análise mais pessimista demonstra que o ABC não é mais um polarizador de tudo que há de novo. Dos 29 anúncios de investimentos em São Paulo, só quatro foram para a região, como aparece no quadro.
Santo André, São Bernardo e São Caetano atraem pouco investimento de médio porte. Um exemplo: a Lacta vai investir US$ 35 milhões em Bauru (345 km a Noroeste de São Paulo) expandido os seus negócios nessa cidade.
A empresa argentina Fundemap, do setor de alumínio, decidiu vir para o Brasil e construir uma fábrica nova. Trará US$ 20 milhões e escolheu Taubaté (134 km a Nordeste de São Paulo) para ser a sua sede.
Talvez há 20 anos a Lacta e a Fundemap pudessem ter considerado gastar o dinheiro no ABC.

Jacareí
Outra cidade que desponta como opção de pólo desenvolvimentista paulista é Jacareí (68 km a Leste de São Paulo), que vai receber US$ 680 milhões nos próximos dois anos.
Vão investir em Jacareí a Cebrace e a Votorantin, do setor de cimento, e a Latasa e a Latapack Ball, norte-americanas que fabricam embalagens.
Os números compilados pelo secretário Emerson Kapaz servem para derrubar um dos mitos que assombram o ABC: o sindicalismo forte, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Isso pode ser constatado nos investimentos das empresas automobilísticas na região. Todas essas empresas teriam opção de iniciar -ou continuar, em alguns casos- a investir em outras cidades.
Mas as principais empresas preferiram continuar a injetar novos recursos no Grande ABC mesmo, o berço da CUT e do Partido dos Trabalhadores (PT).
A única exceção confirma, ainda mais, a destruição desse mito. A General Motors, cuja sede é em São Caetano, decidiu investir US$ 2,2 bilhões fora do ABC.
A GM vai gastar os seus recursos -32,9% do que o Estado receberá- em São José dos Campos (97 km a Nordeste de São Paulo). São José não é o ABC. Mas é o habitat dos setores considerados mais radicais dentro da CUT.

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