São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Cresce rejeição a Real; FHC mantém apoio

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pesquisa nacional do Datafolha revela que a desaprovação ao Real mais do que dobrou nos últimos 12 meses. Subiu de 10% para 23% -uma escalada de 13 pontos percentuais.
É o índice mais alto de rejeição à nova moeda desde julho de 94, quando foi lançada.
Isso significa que praticamente 1 em cada 4 brasileiros (23% da população) acha que o Plano Real está prejudicando o país.
O mesmo levantamento mostra que, passados nove meses do início de sua gestão, Fernando Henrique Cardoso ainda é um presidente popular, a despeito da queda de popularidade do Real.
O desempenho de FHC é aprovado por 42% da população. Consideram-no regular 39% dos brasileiros. Outros 15% o desaprovam.
Em março, decorridos apenas três meses do mandato de Fernando Henrique, os percentuais eram, respectivamente, de 39%, 40% e 16%. A popularidade do presidente mantém-se estável desde então.

Real
Não fosse por um detalhe, a depreciação da estima do brasileiro pelo Real poderia ter sido maior. A pesquisa foi realizada no último dia 18 de setembro, antes do aumento dos combustíveis anunciado pelo governo na segunda-feira passada.
Pesquisa anterior, realizada em junho passado, já havia detectado os primeiros sinais de desgaste do Real. Àquela época, 18% da população avaliava negativamente a moeda, principal fonte de irradiação do prestígio de Fernando Henrique. Antes disso, a rejeição ao Real oscilava em torno de 10%.
A popularidade de Fernando Henrique é irmã gêmea do prestígio do Real. O vigor de uma depende do desempenho do outro. Mantida a curva ascendente, as taxas de desaprovação da moeda tendem a contaminar os índices de avaliação do desempenho do presidente.
O Real é de longe o mais bem-sucedido plano econômico concebido por um governo brasileiro. Convive com índices de inflação muito baixos. O IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas, chegou mesmo a registrar deflação de 0,71% no período de 21 de agosto a 20 de setembro.
Um bálsamo para o Brasil da superinflação. Sobretudo considerando-se o fato de que o Cruzado de Sarney, plano mais popular antes do Real, convivia com inflação de 14% antes de completar um ano de existência.
A expectativa do brasileiro, medida agora pelo Datafolha, é positiva: 45% dos entrevistados acreditam na estabilidade dos atuais índices inflacionários, 33% apostam na alta, e 16% esperam uma redução ainda maior.
O problema é que o debate econômico está migrando para temas como recessão e desemprego. Não se fala em outra coisa. Segundo a Fiesp, as indústrias demitiram 57 mil trabalhadores em agosto.
Empresários e sindicalistas se unem para pedir ao governo que reconsidere a sua política de arrocho ao consumo, dando uma rasteira nos juros. O ministro Pedro Malan (Fazenda) está na berlinda.
A pesquisa revela que a esmagadora maioria dos brasileiros (62%) crê no crescimento do desemprego nos próximos meses -eis o ponto central do desgaste do Real. Apenas 16% apostam na regressão do fechamento de vagas de trabalho. Outros 18% acham que tudo ficará como está.
O pessimismo é inédito. Em levantamento feito em março, sobre o mesmo tema, 47% da população apostava no crescimento do desemprego, 20% na diminuição e 28% na manutenção do cenário.
Outro dado da pesquisa realça o incremento do pessimismo do brasileiro: 42% dos entrevistados afirmam que sua renda familiar é baixa e traz dificuldades para o gerenciamento do orçamento doméstico.
Um dos argumentos do governo para manter os juros altos, a despeito de toda a chiadeira, é o receio de que o brasileiro consuma demasiadamente em datas como o Dia das Crianças (12 de outubro) e o Natal.

A pesquisa Datafolha é um levantamento estatístico por amostragem estratificada por sexo e idade, com sorteio aleatório de entrevistados. O conjunto da população adulta do país é tomado como universo da pesquisa. Nesse levantamento, realizado no dia 18 de setembro, foram entrevistadas 2.921 pessoas em 211 municípios de todas as unidades da Federação. A margem de erro é de 2% para mais ou para menos, num intervalo de confiança de 95%. A direção do Datafolha é exercida pelos sociólogos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi.

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