São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995 |
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Terceira geração expande império de papel com grifes
NELSON BLECHER
O pulo do gato -a empresa afirma deter 25% do mercado nacional- foi explorar o gosto das diferentes tribos de consumidores teens pelas capas multicoloridas com motivos que vão da astrologia à explosão das top models, como Ana Paula Arósio, que estampa a coleção ``Volta às Aulas". Cadernos de capa dura cartonada (papelão revestido de papel couchê e forrado por papel vergê) são vendidos por cerca de R$ 8,00 cada, o dobro do preço dos convencionais. ``Há cinco anos não representavam 5% das vendas. Hoje atingem 40%", afirma. Caio é neto de João Batista Martins Coube, fluminense que aos 18 anos se transferiu para Bauru (345 km a noroeste de São Paulo), e, após trabalhar numa papelaria, vendeu a própria casa para montar, com 18 contos de réis, a Typografia Brasil, transformada, no final da década de 60, em um pequeno império gráfico. Poucas empresas enfrentaram processo de sucessão em condições tão traumáticas. Em apenas 15 meses, a partir de setembro de 1981, três dos quatro filhos do fundador morreram, entre eles Sérvio, pai de Caio. Seguiu-se um período conturbado, que culminou com a cisão dos negócios. ``Havia tanto conflito de gerações quanto de personalidades", conta Caio. Apesar disso, a Tilibra seguiu na contramão de uma fórmula muito difundida por consultores, que prescreve a profissionalização da empresa familiar combinada com o afastamento dos herdeiros. Guiada na fase de transição por remanescentes da segunda geração, uma turma jovem -a maioria hoje na faixa dos 30 e diplomada na Escola de Administração de Empresas da FGV/SP- assumiu as rédeas da Tilibra. De 21 cargos executivos, nove são exercidos por sucessores. A solução doméstica prevê rodízio anual na presidência entre representantes de dois ramos de acionistas da família: Caio Coube, que ocupa pela quarta vez o cargo, e Luis Antonio de Silos Carvalho. ``É necessária liderança para que questões familiares não interfiram no relacionamento profissional", afirma. ``Existem divergências, solucionadas com respeito." Foi então adotada uma estratégia de diversificação dos produtos, agrupados em quatro prateleiras: material escolar, agendas, itens de escritório e de utilidades pessoais. ``Foi Anisinho Aydar, da Propasa, quem lançou, nos anos 70, a moda do caderno com capa feita de blue jeans", diz Caio, ao citar um concorrente. ``Ele foi o primeiro marqueteiro do setor." Aberta a trilha, o mercado sofisticou-se. Hoje há até cadernos emborrachados, e o número de páginas atinge 400. Bolsa interna de plástico e adesivos colantes se tornaram chamarizes indispensáveis. Até a década passada, as vendas eram puxadas pelas ilustrações dos personagens Snoopy e Garfield. Depois, marcas da casa passaram a proliferar, abordando do esporte radical à arte pop -estilo que inspira a coleção Collage. São 450 itens, uma miríade que vai de agendas de planejamento diário para executivos a álbuns de culinária e retratos de bebês. ``Recebemos cem cartas diárias de consumidores", diz Adriana Ricci Coube, 29, gerente de marketing, ao revelar um trunfo da empresa: um banco com cem mil nomes que ajuda a traçar o perfil socioeconômico da clientela. Dona de verba de R$ 2 milhões anuais para investir em pesquisa e publicidade, ela vasculha novidades em feiras internacionais. A mais recente nasceu no gabinete da presidência. Ex-presidente e torcedor do Noroeste de Bauru, mas de coração dividido com o São Paulo F.C., Caio obteve licenciamento de 14 clubes e estampou suas logomarcas na capa da próxima coleção. Na contracapa, letras graúdas recomendam: ``Futebol é alegria. Respeite o torcedor adversário". A Tilibra projeta vender 1 milhão de unidades. No front das exportações, as coisas não caminham tão bem. Em razão de preço, a Tilibra deixou de fornecer para a Stapple's, maior rede de varejo de escritório dos EUA. ``Nessa concorrência senti a pressão da economia global." As vendas externas, que em 1994 representaram 14% da produção, este ano não ultrapassarão 4%. Para compensar, busca contratos no Chile, além de reforçar lotes de agendas para o México. ``Vamos recuperar", diz Caio, habituado às ciclotimias. ``Como dirigente de futebol conheci a glória e também o malho da torcida, quando o time foi rebaixado." Texto Anterior: Financiando 1996 Próximo Texto: A crônica da inflação zero Índice |
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