São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Financiando 1996

CELSO TOLEDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde que o Brasil passou a registrar déficits comerciais, a questão do financiamento do balanço de pagamentos voltou a ser crucial. Sem receitas suficientes para compensar os déficits na conta de serviços, o país passou a operar com altos desequilíbrios nas contas correntes.
Os recursos para financiar os desequilíbrios podem ser simplificados em: (a) crédito comercial; (b) investimentos em Bolsas e renda fixa e (c) outros financiamentos. Uma quarta forma é a variação das reservas.
Pouca atenção tem sido dada ao caráter do financiamento por trás da recente acumulação de reservas (US$ 5,6 bi de agosto/94 a agosto/95) num período de déficit em conta corrente de cerca de US$ 18 bi. Descontando a participação do investimento estrangeiro direto, é possível afirmar, com base nos dados acima, que a dívida total aumentou cerca de US$ 20 bi.
Uma parte significativa desse financiamento se dá pelo acúmulo de dívida comercial. Com efeito, enquanto o saldo acumulado da balança comercial foi negativo em US$ 3,2 bi nos 12 meses terminando em agosto, as operações de fechamento de câmbio comercial foram superavitárias em US$ 8,0 bi. Ou seja, acumulou-se uma dívida comercial de US$ 11,2 bi. Estima-se que a dívida comercial corrente seja da ordem de US$ 40 bi.
O estoque de dívida comercial deve estar chegando ao seu limite. O Brasil dificilmente repetirá em 96 o fluxo de novos créditos comerciais de 95, muito embora seja razoável supor que atual dívida seja rolada. De fato, um país cuja soma aproximada de exportações e importações é de US$ 100 bi anuais não pode elevar a dívida comercial (de prazo médio ao redor de seis meses) muito além do atual nível.
Mesmo recuperando o saldo comercial em 96, é difícil esperar que os outros influxos de capital evitem uma queda do nível de reservas no ano que vem. Mas isso não é necessariamente uma má notícia.
Em primeiro lugar, as projeções apontam que o ano de 1995 fechará mostrando uma posição de divisas confortável, ao redor dos US$ 50 bi. Em segundo lugar, o custo de carregar dólares em quantidade excessiva tem sido muito alto para o país.

Hoje, excepcionalmente, LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não escreve nesta coluna.

Texto Anterior: Consequências dos juros
Próximo Texto: Terceira geração expande império de papel com grifes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.