São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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O astral de São Paulo

EMERSON KAPAZ

Que o governo de São Paulo está quebrado, todo mundo sabe. As razões dessa penúria, também. Apesar disso, quando a realidade dos números é colocada com total transparência e absoluta racionalidade, como o fez o governador Mário Covas na apresentação do orçamento estadual para 96, debatido ao vivo na TV Cultura, há quem ainda se espante.
Como é possível um governador ir para a televisão e anunciar que não há dinheiro para investimentos nos cofres do Estado? Cobra-se uma atitude mais positiva do governador, uma injeção de ânimo da população, uma esperança para São Paulo.
Compreensível, mas equivocado. Em primeiro lugar, o governador foi à televisão para permitir o mais amplo esclarecimento à população sobre o orçamento. Audiências públicas para discussão do orçamento são uma exigência legal e uma saudável prática democrática. Não um show de variedades destinado a incutir otimismo vazio nos telespectadores.
De que adianta prometer realizações impossíveis? Anunciar obras para as quais o Estado não tem recursos? Por estratégia de marketing?
O equívoco mais grave, porém, não é esse. E sim acreditar que, se o governo não tem recursos, então não haverá progresso nem desenvolvimento. É mais uma manifestação da velha visão de que o Estado deve ser o provedor, o fazedor, o tocador de obras. A antiga ladainha de que, sem a ação do Estado no financiamento ou mesmo na execução de projetos, não há prosperidade. Já vimos bem até onde esta mentalidade pode nos levar.
Não é o caso de fazer a defesa do Estado mínimo, mas do Estado saqueado. No que diz respeito ao governo de São Paulo, a falta de investimentos diretos é uma imposição da realidade, do monstruoso déficit herdado.
São dificuldades conhecidas. Os débitos incluem somas como R$ 2 bilhões de dívidas junto a empreiteiras e alguns milhões de precatórias a serem pagas, sem contar Banespa e todas as outras dívidas.
O papel do Estado moderno, no que concerne ao desenvolvimento econômico (e no caso de São Paulo as circunstâncias só reforçam esta posição), é o de articular as diversas esferas de governo com os interesses e necessidades da sociedade, induzir os investimentos privados e atuar na otimização dos fatores competitivos existentes, a fim de tornar o Estado ainda mais atraente para as empresas que aqui desejam instalar-se ou ampliar atividades.
Se o que se espera do governo é a produção de notícias que levantem o astral dos paulistas, nada melhor do que fatos e números.
Engana-se quem acha que a penúria do governo significa ausência de investimento e de geração de riqueza e empregos. Se não há recursos, é preciso usar a criatividade e saber valorizar nossas vantagens comparativas. E é com base neste trabalho que São Paulo, apesar da indesejável herança recebida, é o Estado que garantiu para si o maior número de novos empreendimentos anunciados no país em 95.
Já temos a confirmação de investimentos a serem feitos por grandes empresas nacionais e estrangeiras em solo paulista, que totalizam a fantástica soma de US$ 6,5 bilhões para os próximos dois anos, nas mais diversas áreas: automobilística, cimenteira, têxtil, siderúrgica, química, eletrônica, informática, embalagens, cosmética, varejo e serviços, entre outras. Esses investimentos deverão gerar cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos!
Empresas como GM, Volkswagen, Ford, Compaq, Procter & Gamble, Rhodia, Vicunha, Votorantim, Wal Mart, Kodak, Motorola, Du Pont, Philips, Mercedes-Benz, Parmalat e muitas outras já confirmaram esses investimentos, tendo em vista as vantagens proporcionadas pelo Estado mais desenvolvido do país: a possibilidade de usufruir de parcerias com universidades e institutos de pesquisa, o maior mercado consumidor, mão-de-obra de excelente nível e uma moderna infra-estrutura de transportes, cada vez mais integrada.
Sem falar o principal insumo da economia neste final de século, as telecomunicações.
Até meados de 96, como fruto da cooperação entre Telesp e Embratel, São Paulo terá mais de 60% de seu território coberto por redes de fibras óticas, o que multiplicará as possibilidades das empresas aqui instaladas em termos de transmissão de dados, imagens e voz, e de implantação de sistemas como o ``just in time", garantindo-lhes condições de competir internacionalmente, disputando mercados e selecionando fornecedores em qualquer canto do planeta.
Isso se chama competitividade. É o que na verdade conta para os investidores e para a sociedade, pois gera desenvolvimento, riqueza e empregos. Tudo aquilo que levanta o astral de uma sociedade. É nisso que estamos e vamos continuar investindo.

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