São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995 |
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Plano Cavallo pode virar Plano Menem
GILSON SCHWARTZ
Aconteceu o óbvio: o presidente Menem, reeleito, ``menemizou" o plano. Mesmo porque há evidências de que Cavallo não é exatamente o candidato dos sonhos do próprio Menem para sua sucessão. Entretanto, o czar da economia argentina pode entrar para a história econômica não apenas como o ministro que deu um golpe de morte numa das mais cruéis hiperinflações do continente. Pois Cavallo, ao sair (ele já começou a sair), está redefinindo os rumos da estabilização argentina. Dois lances são fundamentais na nova estratégia de Cavallo para sair por cima. O primeiro, definir um horizonte de permanência de mais dois anos (nos mercados financeiros, contava-se com sua sobrevida no máximo até dezembro). O segundo, transformar o regime cambial argentino num sistema de bandas, igual ao brasileiro. O primeiro lance, a proposta de mais dois anos no cargo para que ``complete sua missão", talvez não se concretize. De fato, diminuiu muito no mercado mundial e mesmo na Argentina a simbiose Cavallo-estabilização. Principalmente depois dos sinais ambíguos do presidente Menem, que tem fornecido o óleo para a fritura. O fogo vem de amplos setores afetados pela recessão e pelo desemprego de cerca de 20%, que já mobiliza até o peleguismo mais menemista. Parece haver fogo também num escândalo de corrupção envolvendo gente próxima a Cavallo. E há os lança-chamas no Congresso argentino. Mas a proposta de mudar a Lei de Conversibilidade fica como o grande marco histórico do Plano Cavallo: o reconhecimento, pelo autor, de que a obra não é perfeita e da sua responsabilidade de desativar a bomba-relógio. Cavallo quer um sistema de bandas de flutuação, em vez do câmbio fixo. Claro, o ministro diz agora que se trata de uma banda para valorizar ainda mais o peso. Ele pretende aproveitar um momento favorável (aprovação das contas argentinas pelo FMI e boa captação de recursos externos) para mudar o sistema. Mudada a lei, sem traumas, até com o peso valendo ainda um pouco mais que o dólar (com o apoio do FMI e dos empréstimos externos), estaria aberto o caminho para no futuro, quem sabe, desvalorizar sem traumas ou fuga de capitais. Desmontará Cavallo seu Frankenstein cambial? Mesmo sem ficar os pedidos dois anos, é inegável o acerto de sua conversão. Na semana passada, apesar de tudo o que se fez na Argentina desde o início do Plano Cavallo, apesar até da aprovação do FMI e da captação externa, uma agência internacional de classificação de riscos recusou-se a promover o país. E o que é mais dramático: houve alívio nos mercados, pois muita gente esperava um ``downgrading", um rebaixamento. Em vista do custo social e político do modelo argentino, parece mesmo sábio iniciar a sua flexibilização. Com ou sem Cavallo. Texto Anterior: O astral de São Paulo Próximo Texto: Abaixo o baixo astral Índice |
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