São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995 |
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Jornal dá tratamento diferente a negros
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Na década de 80, quando o ``Post" apoiava o prefeito negro Marion Barry em editoriais, a cobertura de sua administração era mais aguda do que agora. Barry, que está longe de ser modelo de dignidade na condução dos negócios públicos, tem sido tratado de maneira quase simpática pela reportagem local do ``Post", embora o publisher do jornal o negue. Louis Farrakhan, o líder da entidade negra antisemita Nação de Islã, recebe sempre um tratamento deferencial que o jornal não reserva a representantes de outros extremistas no espectro político. As reportagens do caderno metropolitano do ``Post" com frequência soam triunfalistas quando tratam de qualquer problema da comunidade negra. Textos agressivos sobre questões como gravidez de adolescentes, crime, violência e tráfico de drogas em bairros negros são cada vez mais raros. Toda a cobertura de problemas relacionados com negros em Washington pelo ``Post" mostra como é problemático o conceito de que o jornal deve ajudar a construir e cimentar as relações sociais na comunidade em que vive. O ``Post" sob o comando de Donald Graham, herdeiro do jornal que na juventude resolveu trabalhar como policial para melhor conhecer a cidade, parece ter a tendência de responder afirmativamente a essa questão. Em vez de expor à luz as mazelas, as patologias, as taras da sociedade, o jornal age com frequência como um líder populista clássico, ocultando os piores aspectos, procurando achar minúcias ``positivas" para enfatizar O que teria sido da cobertura do ``Post" no caso Watergate se os editores da época tivessem se importado com os efeitos desmoralizadores que a revelação dos esquemas de corrupção na Casa Branca de Nixon provocariam (como provocaram) sobre a Presidência e demais instituições políticas? As instituições sobreviveram, melhoraram e se fortaleceram graças à coberyura agressiva do ``Post" no caso Watergate. Poderia ter ocorrido o contrário se o jornal tivesse sido ``solidário" com elas. Os responsáveis pelo ``Post" não contestaram a procedência de alguns episódios bizarros descritos por Shalit que mostram o paternalismo com que jornalistas negros são tratados pela direção do jornal. O repórter Nathan McCall, por exemplo, foi contratado mesmo depois de se ter descoberto que ele havia mentido na entrevista de admissão ao dizer que um vazio de atividades de três anos descoberto em seu currículo se explicava por ``viagens" quando na verdade ele cumpria pena de prisão no período por assalto a mão armada. A repórter Jill Nelson foi apenas suspensa por uma semana quando se descobriu que ela falsificara a assinatura de seu editor em autorizações de despesas durante uma viagem de serviço. McCall e Nelson estão entre os ex-jornalistas negros do ``Post" que acusam o jornal de continuar adotando práticas gerenciais racistas. (CELS) Texto Anterior: Questão racial divide imprensa dos EUA Próximo Texto: Escassez pode levar à guerra da água Índice |
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