São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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A contemporaneidade do diálogo

EDIR MACEDO

O secular conflito entre fé e razão, estabelecido desde os primórdios do cristianismo, iniciou-se com a necessidade da cultura grega no sentido de desejar compreender, pela racionalidade lógica, o discurso e a prática dos cristãos.
Esse conflito deu origem à filosofia cristã, à teologia, aos credos e aos dogmas, propiciando uma crença híbrida, formal e ritualista, que resultou na Igreja Romana cuja história é muito bem conhecida.
O mundo contemporâneo continua, por influência das mais diversas filosofias, considerando a razão a dona da verdade; a única maneira de conhecer capaz de descortinar a verdade aos homens. Infelizmente, a cultura européia, da qual somos herdeiros pobres, não reconhece o âmbito da fé, onde se encontram o sagrado, o mistério e a revelação, e a grande verdade é que foi exatamente esse âmbito escolhido por Deus para se revelar à sua criatura.
Embora a fé possua um certo conteúdo racional, ela não pode ser totalmente compreendida pela razão. A compreensão meramente racional do mundo leva a pessoa a uma vida alienada e sem sentido, bem como uma compreensão meramente fideísta leva ao fanatismo e à cegueira. É certo que os dois componentes não se excluem, mas também é certo que não têm o mesmo peso.
A Igreja Universal do Reino de Deus tem consciência da supremacia da fé em relação à razão. Essa consciência deixa o ser humano independente das estruturas racionais, religiosas ou não. Talvez esse seja um dos aspectos mais importantes que a fazem diferente de outras agremiações religiosas. Cremos, acima de qualquer coisa, e nos baseamos na Bíblia, que consideramos a Palavra de Deus.
Ao curar um cego de nascença, Jesus cuspiu no chão, misturou sua saliva com a terra, passou nos olhos daquele cego e mandou que se lavasse no tanque para que fosse curado. A narrativa bíblica diz que foi. Qual a explicação racional para esse ato? Qualquer uma seria absurda.
A fé não pede explicações; é assim que a Bíblia ensina. Há muitos tipos de pessoas que se dizem cristãs, mas negam a veracidade das narrativas bíblicas, que consideram mitos, acréscimos textuais ou coisas desse tipo. Tais pessoas não aceitam os mais elementares valores do cristianismo e até acreditam na fé, mas são incapazes de acreditar no doador dessa fé.
A razão humana não pode ser encontrada em estado natural. As pessoas são educadas em sociedades com valores e princípios impregnados de conceitos ideológicos próprios. Quem gosta de julgar os outros à luz da razão deste mundo deve considerar que esta não fornece a única nem a verdadeira visão da vida.
O milagre pertence ao âmbito da fé. Também a crença no diabo, nos demônios e a esperança da vida eterna. Pode parecer estranho a alguns intelectualóides, mas é disso que fala o Novo Testamento. A vida de Jesus é regida e se caracteriza por acontecimentos miraculosos. Quando João Batista, preso, desejou se certificar se Jesus era mesmo o Messias e mandou-lhe mensageiros para verificar, Jesus não os recebeu com argumentos racionais ou históricos para provar que era o enviado de Deus.
Simplesmente acenou para os milagres que realizava. O próprio Cristo, segundo os evangelhos, passou muito mais tempo expulsando demônios e curando miraculosamente as pessoas do que pregando sermões ou distribuindo comida para os pobres.
Em um mundo que se diz plural e complexo e se afirma na era da pós-modernidade, uma igreja que rompe com a lógica da estrutura perversa e incrédula da sociedade estabelecida e leva os seus fiéis a crerem com simplicidade em um Deus que é Pai e se interessa pela felicidade dos seus filhos, conforme ensinou Jesus Cristo, não deveria ser perseguida.
Não deveriam ser tratados como ladrões e chantagistas aqueles que dedicam suas vidas para servir ao outro. O título de mercantilista não cabe a nenhuma organização religiosa que esteja inserida em um sistema no qual sem dinheiro nada se pode fazer; muito mais quando esse sistema é injusto, corrupto, sujo e, pior, aceito, propagado e imposto aos cidadãos, no uso de uma racionalidade mentirosa, hipócrita, maldosa e sem Deus.

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