São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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panacéia da pesada

LÚCIA CRISTINA DE BARROS

Ofertas de emagrecimento rápido e sem esforço são uma só coisa para Tito César dos Santos Nery, presidente do sindicato paulista dos médicos. "O termo jurídico é charlatanismo, o termo científico é charlatanismo. E charlatão tem que ser afastado do meio médico."
Junto das modinhas dietéticas de balcão, o consumo de anoréticos receitados por médicos também cresce e preocupa.
Segundo o professor Carlini, o Brasil consumiu 7,7 toneladas desses emagrecedores à base de anfetaminas em 1988. Em 1992, houve um aumento superior a 200% (23, 6 toneladas). Significa que o país gasta cerca de R$ 262 milhões ao ano com essas drogas, calcula Renato di Dio, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade.
Nos Estados Unidos, onde dados de 1991 apontam um terço da população adulta com peso excessivo (um problema para o sistema de saúde, que em 1986 gastou US$ 39 bilhões com doenças associadas à obesidade), o cálculo é de US$ 30 bilhões gastos por ano em esforços para controlar ou perder peso.
Aí, é quando vale tudo. Angélica Claudino Azevedo, psiquiatra do Programa de Transtornos Alimentares da Escola Paulista de Medicina, diz que a compra de produtos milagrosos não passa pelo lado racional. "A sociedade coloca metas de beleza irreais e oferece métodos irreais para chegar à meta. Quem busca o ideal está disposto a tudo."

Set point
O fato é que a maioria não chega à meta. "As pessoas têm embutido nos genes o quanto devem pesar", diz Geraldo Medeiros, professor da Faculdade de Medicina da USP. É o chamado "set point": o ponto de equilíbrio do organismo em relação ao peso, teoria que explica por que algumas pessoas emagrecem ao fazer dieta, mas engordam de novo.
O set point é determinado pelo histórico clínico e a composição corporal (medida de quanto uma pessoa tem de osso, gordura, água e músculo). "Não devemos emagrecer além do geneticamente estabelecido", afirma Medeiros.
Mas enquanto magreza for sinônimo de beleza e competência, e gordura significar falta de vontade, não é isso que os gordos querem ouvir.
A receita básica para perder peso todo mundo sabe: dieta e exercício. Mas a busca é pelo milagre.
"É uma batalha perdida", decreta Alfredo Halpern, autor de "Entenda a Obesidade e Emagreça". Ele diz: "Não há um mês em que não surja uma novidade. Não me causa espanto que a pessoa tome o produto e perca peso, porque quando alguém se dispõe, emagrece. Mas depois volta a engordar. Aí é hora de buscar outra fórmula mágica."

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