São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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panacéia da pesada

LÚCIA CRISTINA DE BARROS

A nova marca vende o moderno conceito de nutrição celular. Vem embalada em forma de "shake" e comprimidos -e serve não só para quem quer emagrecer como para a manutenção e o ganho de peso.
"Nós não vendemos medicamentos", explica Richard Marcotullio, vice-presidente para assuntos externos da matriz norte-americana, que falou com exclusividade à Revista da Folha, por telefone, de Los Angeles. "Nossos produtos são classificados como suplementos alimentares."
A diferença é que a Herbalife não precisa de aprovação da Food and Drug Administration (espécie de Vigilância Sanitária norte-americana), como confirma Bread Stone, porta-voz da entidade.
Presente em 27 países, os produtos Herbalife são vendidos por distribuidores independentes, que lucram tanto mais quanto mais produtos vendem e mais distribuidores recrutam (qualquer semelhança com a pirâmide não é mera coincidência).
Um relatório da Herbalife International apontava um total de vendas de US$ 229 milhões entre janeiro e março -contra US$ 192 milhões no mesmo período do ano passado.
Uma verdadeira potência montada sobre uma receita básica: um coquetel de comprimidos ao dia e um shake que substitui duas refeições, para quem quer emagrecer. Os comprimidos são chamados de fórmula 1, 2 e 3. Todos são à base de "ervas, minerais, vitaminas e proteínas", segundo o folheto promocional.

"Coisas milagrosas"
"Não passo fome e me sinto até melhor, porque o kit tem todas as vitaminas necessárias", diz Mirela Gorenstein, 21, atriz. Com 1,65 m e 59 quilos, ela quer perder cinco e confia na Herbalife para chegar lá.
Até o mês de setembro, a empresa ainda atuava no Brasil "extra-oficialmente", por meio de vendedores autônomos ligados a um dos demais países onde a Herbalife já opera.
Os negócios vão muito bem. Flavio Simeliovich, universitário, vendeu os 55 kits de sua primeira importação em menos de dois meses, "sem trabalhar período integral". Cada kit dura um mês e custa R$ 110.
"O Herbalife é mais um produto daquele contexto que diz que coisas milagrosas fazem emagrecer", diz Alfredo Halpern, livre docente de endocrinologia da USP. Ele continua: "Não há razão para o Herbalife fazer emagrecer, só uma: tomar o produto ao invés de comer".

"Nutrição celular"
Halpern explica que a eficácia de um produto só pode ser comprovada por meio do chamado "estudo duplo cego". Coordenado por médicos, reúne um grupo de pessoas: metade delas toma o produto em teste e as demais, sem saber, tomam um placebo (solução sem nenhum efeito). Os resultados são então comparados.
Quanto à suposta nutrição celular prometida pela Herbalife, Halpern resume: "É bobagem. É uma linguagem complicada para justificar o injustificável."

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