São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995 |
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Roteiros escritos por Paul Auster saem no Brasil
ZECA CAMARGO
Com uma boa tradução de Luis Roberto Mendes Gonçalves (previsivelmente melhor que as legendas do filme) e uma edição praticamente idêntica ao volume editado nos Estados Unidos, ``Cortina de Fumaça - Sem Fôlego" chega às livrarias menos como um acessório para o fã de Auster -que viu o filme e gostaria de ter o roteiro como suvenir- do que como uma verdadeira contribuição para a obra do autor. O lançamento traz, na verdade, um pouco mais do que os roteiros dos filmes. Juntando uma entrevista com Paul Auster, um prefácio de Wayne Wang (diretor dos filmes), o conto de natal publicado pelo ``The New York Times" -que, de certo modo, originou ``Cortina de Fumaça"- o livro traz ainda uma descrição competente de como surgiu a idéia de fazer ``Sem Fôlego". Conceito primitivo Simplificando bem, esse segundo filme (ainda inédito no Brasil) saiu como um filhote de ``Cortina de Fumaça". Como o próprio Auster explica, o conceito era primitivo ao máximo. Partindo de Auggie -um personagem importante de ``Cortina de Fumaça"-, Auster escreveu cenas rápidas, carregada de chances de improviso, que ficaria sob responsabilidade dos atores e que não durassem mais que dez minutos -para não gastar filme. A princípio, o filme foi feito com o tempo, o dinheiro e os rolos de filme virgem que estava sobrando -o que deu bem justo para três dias de filmagem. Mas depois de uma montagem inicial, o resultado entusiasmou tanto Auster como Wang. Uma campanha rápida para juntar mais dinheiro e convencer a equipe foi armada, e assim todos voltaram para a loja de cigarros de Auggie, no Brooklin nova-iorquino, para mais alguns exercícios. Acaso Só de ler as situações criadas por Auster (que estão bem descritas no livro), já é possível ver o autor sorrindo por trás de sua criação só em ter prazer de poder brincar mais uma vez com o acaso. Ler o roteiro final de ``Sem Fôlego", então, é a multiplicação desse prazer anterior -que sua estréia no Brasil seja em breve. Com relação a ``Cortina de Fumaça", é interessante ainda ver como Auster se esforçou para criar dentro de um gênero que não era o seu. Uma adaptação de algo que ele já havia escrito não ia funcionar -isso, ``A Música do Acaso" já tinha ensinado. Por isso o escritor se concentrou para criar algo realmente inédito para ele. Felizmente, mesmo saindo do seu hábitat, Auster oferece de vez em quando em ``Cortina de Fumaça" algumas pistas de que ele não conseguiu fugir tanto assim do universo de seus livro. Por exemplo, o filme traz a fascinação do autor pela fotografia, coincidências extraordinárias (graças à sempre pesada mão do destino), e personagens extremamente interessantes, mas que passam pela história como que só para dar um gostinho -como a menina viciada em crack Felicity, filha de Ruby. Com todo esse recheio, ``Cortina de Fumaça - Sem Fôlego" serve como um pouco mais que um tira-gosto entre o jejum pelo qual passam os leitores de Auster até o lançamento de seu próximo romance -que talvez aconteça ainda este ano. Livro: Cortina de Fumaça - Sem Fôlego Autor: Paul Auster Preço: R$ 24,50 Texto Anterior: Lucio Costa lança suas memórias do Brasil Índice |
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