São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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Questão racial impediu a condenação

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Imagens do retorno de jurados para suas casas, a maioria em bairros negros de classe média baixa em Los Angeles, aumentam a impressão de que era quase impossível para eles condenar Simpson no clima racial criado pela defesa.
Se, para o promotor Christopher Darden, bem-relacionado, conhecido, seguro, foi tão difícil segurar a barra de ser negro e se colocar em oposição a Simpson, imagine o que os jurados teriam de passar se o condenassem.
A indignação de muitos com o veredicto não deriva tanto de certeza (o que ninguém exceto Simpson pode ter) de que ele foi o assassino, mas da impressão de que, se o réu fosse branco e as vítimas, negras, o júri com as mesmas evidências o teria condenado.
Ou de que, se as vítimas fossem negras, o próprio Simpson poderia ser condenado, como foi, aliás, outro negro milionário, Mike Tyson, acusado, com frágeis evidências, de estuprar uma negra.
Um júri de maioria branca também poderia ter condenado Simpson com as mesmas provas, acredita a maioria dos norte-americanos consultados em pesquisas de opinião pública.
Apesar das provas incontestáveis, gravadas em vídeo, um júri de maioria branca absolveu os quatro policiais brancos que massacraram o negro Rodney King em 1991, na mesma cidade racialmente conflagrada de Los Angeles.
Todas essas ponderações mostram como numa sociedade dividida por questões raciais, a instituição do tribunal do júri se torna vulnerável. É a principal causa de angústia provocada pelo caso O. J. Simpson.
As decisões deixam de ser tomadas em função dos autos, das evidências, dos testemunhos. O júri passa a exercer, como o advogado Johnnie Cochran conclamou o de Simpson a fazê-lo, o papel de agente político.
``Vocês são os mensageiros", disse Cochran aos nove negros do júri, ``mandem a mensagem à polícia de Los Angeles para acabar com o racismo".
O réu no caso não era a polícia de Los Angeles. Mas, como confirmam os depoimentos dos jurados depois do veredicto, foi ela quem acabou condenada.
O presidente Clinton, os candidatos à sua sucessão, os promotores, os líderes religiosos, todos pediram ao público respeito ao júri.
O problema é que o júri, no caso Simpson, não se deu ao respeito ao decidir seu veredicto em função de apelos políticos e raciais.
(CELS)

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