São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Hélio Luz o tira-cabeça

LUIZ CAVERSAN
DE SOCIOLOGIA DOS ANOS 70.

O arcabouço sociológico de Luz vai a patamares mais profundos quando ele se refere a questões como criminalidade e violência: "Como policiais, nós operamos apenas nos efeitos, não nas causas da violência. O crime não é só um assunto policial. Tem tudo a ver com concentração de renda exagerada e também com o êxodo rural. Reforma agrária, concentração de renda e êxodo rural são questões de segurança pública".
A coisa não pára por aí. Pari passu à responsabilização dos maus policiais pela deterioração da polícia do Rio, Luz também destina uma boa dose de culpa à população.
Conivência
Num encontro com a chamada "sociedade civil" promovido pelo Movimento Viva Rio, ele foi bastante explícito: "A corrupção existe porque é tolerada, interessa e sempre interessou à sociedade que fosse assim. A polícia foi criada como aparelho de repressão do Estado, mas as investigações só ocorrem em crimes até R$ 1.000. Acima disso, só com quebra de sigilo bancário, o que nunca se consegue".
Como exemplos de conivência da sociedade, Hélio Luz cita o cidadão que dá R$ 5 ao guarda de trânsito para não ser multado e os empresários que, segundo ele, oneram o poder público.
Nova polícia
"A polícia paga R$ 1.200 para cada faxineiro que trabalha lá, contratado por uma firma particular. Sabe quanto o faxineiro recebe de fato? Só R$ 100. Para onde vai o resto do dinheiro? Assim fica difícil convencer o policial de que ele não deve ser corrupto." Atirando para todo lado, poupando o governo para o qual trabalha ("é preciso vontade política para mudar e isso está acontecendo"), apostando em sua tropa de elite, Luz acredita que de sua ação surgirá o embrião de uma "nova polícia".
Não sabe exatamente qual, para citar como exemplo. Estranhamente, ele não atribui importância alguma a soluções bem-sucedidas encontradas por outros países. Confrontado com as mudanças positivas da polícia de Los Angeles, diz apenas que "as realidades são diferentes".
Sem ostentação (usa a arma, um 38 cano curto, num coldre preso à canela) e sem truculência, com seu ar de professor universitário ex-hippie, Hélio Luz diz não ter ambições. Quer ver o Rio como uma cidade habitável e, se der, fazer pós-graduação em alguma universidade do exterior. Em Ciências Políticas.

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