São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Sem-terra resistirão pacificamente a PM

PAULO FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL AO PONTAL DO PARANAPANEMA

Os sem-terra do Pontal do Paranapanema pretendem resistir pacificamente à desocupação do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Taquaruçu e da fazenda São Domingos, invadidos no sábado.
O juiz do Fórum Distrital de Pirapozinho, Darci Lopes Beraldo, 27, acolheu ontem os pedidos de reintegração de posse feitos pelo dono da São Domingos e pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo).
Segundo Deolinda Alves de Souza, 25, da liderança do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Pontal, os acampados vão ``resistir passivamente à ordem de desocupação.
Eles deverão se jogar no chão, obrigando a PM a carregá-los para fora da área a Cesp. ``Eles vão carregar a gente para fora. Aí, nós levantamos e voltamos", disse.
Deolinda é a coordenadora interina dos sem-terra do Pontal desde anteontem à tarde, quando o principal líder do MST na área, José Rainha Júnior, seu marido, desapareceu com outros 15 membros da coordenação. Eles temem a decretação de sua prisão preventiva e conduzirão o movimento na clandestinidade.
Um dos pedidos de prisão preventiva contra Rainha e os demais líderes foi negado anteontem pela juíza Catarina Estimo, de Mirante do Paranapanema. Mas há outro pedido de prisão.
O esquema de segurança dos sem-terra foi reforçado ontem. A entrada da sede da fazenda São Bento, utilizada pela liderança do MST para seus encontros e reuniões, foi fechada. A liderança do MST disse ontem que vai responsabilizar o governo do Estado se acontecer qualquer tipo de violência na desocupação das áreas.
A PM começou a estudar ontem sua estratégia para garantir o cumprimento da reintegração de posse. Segundo o comandante interino da 3º Companhia da PM em Pirapozinho, tenente Aparecido Alba, 50, as duas áreas deverão ser desocupadas ao mesmo tempo.

Gado
Muitas cabeças de gado estão morrendo nos pastos da fazenda São Domingos. O gado, segundo Deolinda, está morrendo de fome ou de disenteria.
``Essa é uma tática do dono da área para depois dizer que fomos nós que matamos esse gado. Ele deixou por aí muitos bois e vacas que já estavam quase morrendo. Como o gado está doente e não tem alimento suficiente, acaba morrendo no pasto", afirmou.
A Folha andou ontem à tarde por uma área de aproximadamente sete hectares da São Domingos. Nessa área, há mais de dez bois e vacas mortos. No meio do pasto, uma vaca agonizava enquanto uma bezerra de três dias tentava sugar leite de suas tetas já completamente tomadas pelos vermes.

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