São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Economista demonstrava desconforto

JOSIAS DE SOUZA; VALDO CRUZ

JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
VALDO CRUZ
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília
O economista Edmar Bacha informou ao presidente Fernando Henrique Cardoso que deixaria o governo na terça-feira da semana passada. Há meses vinha demonstrando desconforto. FHC tentou, sem sucesso, demovê-lo da idéia.
O presidente procurava reanimar Bacha. Gostaria que viesse mais a Brasília, que voltasse a participar diretamente da gestão da economia. Ele, porém, mostrava-se apático nas reuniões.
No diálogo que manteve com Fernando Henrique, Bacha preocupou-se em caracterizar sua saída como algo estritamente pessoal. Disse que deseja voltar à vida acadêmica e trabalhar em consultoria.
Em almoço com o ministro Clóvis Carvalho (Gabinete Civil), na terça-feira passada, Bacha reforçou sua decisão. Ele planeja morar em Nova York.
Bacha desejava deixar o governo, na verdade, desde o final da gestão Itamar Franco. Sob insistência de FHC, aceitou permanecer. Condicionou a permanência à sua transferência para o Rio, onde estava sua família.
Já em janeiro, disse ao presidente que ficaria apenas até o final de 95. Antecipou sua saída em quase três meses, graças a divergências quanto à condução do ajuste fiscal. Esperava maior empenho no controle dos gastos e na desmobilização do patrimônio público, por intermédio do programa de desestatização.
Na prática, Bacha era o condutor do processo de privatização. Poderia, em tese, apressar a venda de estatais. O BNDES, porém, está subordinado à pasta do Planejamento, dirigida por José Serra, defensor da tese de que se deve ter cautela no processo.
Durante a gestão Itamar, o então presidente do BNDES, Pérsio Arida, reportava-se diretamente ao ministro da Fazenda, à época Fernando Henrique. Bacha imaginou que poderia agir com certa independência. O relacionamento entre ele e Serra sempre foi cíclico. Ora se dão bem, ora têm divergências.
Os dois se desentenderam quando Bacha propôs a criação do FSE (Fundo Social de Emergência). Era a única forma, na sua opinião, de manter de pé o Real enquanto não se promovia o ajuste fiscal. A decisão de reeditar o FSE é a evidência de que o governo não conseguiu promover o ajuste fiscal imaginado por Bacha.

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