São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Edmar Bacha, um dos pais do Real, deixa o governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O economista Edmar Bacha, 53, um dos pais intelectuais do Plano Real, demitiu-se ontem da presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que ocupava desde o início do governo.
Bacha, responsável pelo programa de privatizações do governo, será substituído pelo economista Luiz Carlos Mendonça de Barros -sócio do banco Matrix e irmão de José Roberto, secretário de Política Econômica, do Ministério da Fazenda.
Segundo a Folha apurou junto ao Ministério do Planejamento, José Serra e Bacha, seu subordinado, vinham divergindo quanto ao ritmo do programa de privatizações.
O presidente do BNDES, como toda a equipe econômica, considera a venda de estatais fundamental para abater o déficit público.
Já Serra atribui o aumento da dívida pública à política de juros comandada pelo Banco Central com o aval da Fazenda.
Há duas semanas Bacha esteve envolvido em um atrito entre os ministérios da Fazenda e Planejamento a respeito do programa de privatização. Embora o BNDES seja vinculado a Serra, Bacha, desde a formulação do Real, é identificado com a equipe do ministro Pedro Malan (Fazenda).
Malan anunciou em Nova York que os títulos dos credores externos do Brasil seriam aceitos pelo valor integral em leilões de estatais. No mesmo dia, a diretora do BNDES, Elena Landau, declarou que não pretendia aceitar títulos de nenhuma espécie nas vendas de empresas importantes.
Ontem, ao anunciar sua demissão, o ex-presidente do BNDES disse, em entrevista no Palácio do Planalto às 19h30, que deixou o governo porque considera ``cumprida a tarefa que aceitou fazer", que era a de solidificar a estabilização dos preços e evitar traumas com mudanças na equipe econômica.
Edmar Bacha negou que sua saída seja motivada pelas críticas de que o processo de privatização esteja lento. ``Não creio que, olhando concretamente todo o contexto, haja reparos ao ritmo das privatizações", disse. Ele também negou atritos com o PFL.
Serra, que acompanhou a entrevista de Bacha, disse que o processo de privatização vai cumprir ``rigorosamente o padrão estabelecido pelo BNDES e pelo Conselho Nacional de Desestatização".
Quando lembrado que o sucessor de Bacha é um banqueiro, Serra afirmou que a escolha foi um consenso dentro do governo, após várias consultas. ``É um homem extremamente capacitado", afirmou.
Com a saída de Bacha, estão fora do governo os três principais formuladores do Real. André Lara Resende se demitiu antes do lançamento do plano, enquanto Pérsio Arida deixou a presidência do Banco Central em maio último.

Substituto
Para o lugar de Bacha foi escolhido um executivo mais afinado com Serra. Luiz Carlos Mendonça de Barros, como o irmão na secretaria de Política Econômica, é considerado no governo mais próximo da equipe do Planejamento que de Malan.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 53, foi diretor de Mercado de Capitais do Banco Central no início do governo Sarney. É sócio de André Lara Resende no Banco Matrix.

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sobre a mudança na página 2-4

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