São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995 |
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Foco errado
ANDRÉ LAHÓZ Todos os recentes indicadores de atividade econômica mostram uma inexorável reversão da tendência de desaquecimento econômico.O Natal deste ano não deve ser muito diferente do último em termos de vendas. Ou seja, o desempenho econômico deve ser muito bom. Por que motivo tanta gente errou nas previsões catastrofistas sobre o nível da atividade? Deixando de lado razões ideológicas e políticas, há, inicialmente, uma explicação geral: o Brasil é um país que impressiona pela velocidade com que a economia muda. E isso contamina e dificulta as análises. Em que outro país do mundo se passa de um crescimento anualizado de mais de 10%, com muitas empresas promovendo o terceiro turno, para uma sequência de férias coletivas e demissões? Ou se passa de um superávit comercial anualizado de US$ 15 bilhões, no terceiro trimestre de 1994, para um déficit anualizado de mais de US$ 10 bilhões, no primeiro trimestre deste ano? Outra explicação, mais técnica, é a falta de distinção por parte dos críticos entre a questão do crédito e da renda. As medidas do governo para esfriar a economia colocaram, de fato, uma restrição violenta ao crédito no início do ano. E isso exacerbou o risco das empresas. Os juros altos trouxeram um índice elevadíssimo de inadimplência. O resultado foi uma retração nas vendas. Mas a renda real dos trabalhadores foi mantida e, muitas vezes, elevada. O fim da inflação (com o consequente fim do imposto inflacionário), o aumento do salário mínimo e a queda dos preços agrícolas são elementos que contribuíram para impedir a diminuição da renda. É claro que a inadimplência complicou a vida de muita gente. Até que as dívidas sejam pagas, há, certamente, uma retração nas compras. Mas os indicadores mostram que a inadimplência já está caindo. Ou seja, as pessoas estão voltando lentamente para o consumo. E com um nível de renda maior. A política dos juros não está trazendo a recessão que se previu. O que não quer dizer que a atual política monetária esteja correta nem que ela não traga danos para o país. A meu ver, a crítica correta dos juros altos se concentra sobre dois pontos: o alto custo, para o governo, da atual política monetária e as consequências sobre a distribuição da renda e da riqueza. Sobre o alto custo para o governo, trata-se de um ponto óbvio. Os juros primários estão altos, embora em queda gradual. Não há, neste momento, nenhuma explicação para tanta prudência por parte do governo. A política de juros traz, por outro lado, uma intensa redistribuição da renda e da riqueza. Empresas menores, pessoas físicas e jurídicas endividadas e setores frágeis da economia estão, certamente, em sérias dificuldades. Uma estratégia ``errada", como a que parece ter sido adotada por muita gente, pode representar o fim de uma empresa com pouco capital de giro e sem acesso a capital externo. Há, com isso, uma grande concentração de capitais. É por aqui, e não pela recessão, que deveriam se concentrar as críticas à política monetária. Texto Anterior: Na escuta; Reserva técnica; Vôo de volta; Caneta do prefeito; Condições acertadas; Nova unidade; Dados agregados; Vigilância discreta Próximo Texto: A reforma tributária Índice |
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