São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995 |
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Cacá Carvalho faz estréia como diretor
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Carvalho esteve em cartaz há pouco com o também monólogo ``O Homem com a Flor na Boca", de Pirandello, no mesmo Teatro de Câmara que abriga a nova montagem. Embora seja primordialmente ator, diz que topou com entusiasmo a proposta de trabalhar com Mattos, agora como diretor. ``Quando mexo com direção, tenho o maior prazer de brincar, de jogar com esse outro ponto de vista", diz. ``O diretor precisa ser generoso não para dar, mas para receber o que vem do ator. Esse processo é fundamental." Mattos, que se diz fã de carteirinha de Carvalho, afirma que ficou ``passado" quando ele lhe mostrou o texto. ``No início dos ensaios, dava a maior vergonha. Tive que ultrapassar a barreira do mito que é o Cacá, para mim o maior ator que temos", diz Mattos. Vencida a timidez inicial, diz que não foi assim tão difícil criar o personagem anônimo e desiludido que se julga ridículo e oscila entre a solidão e a loucura em sua casa, mesmo sob a sombra da influência de Carvalho e seus monólogos. ``Descobri coisas maravilhosas", diz Mattos. ``Aprendi a usar o texto de alguém para falar coisas minhas." O conto de Dostoiévski, publicado originalmente no periódico ``Diário de um Escritor" (que editava sozinho nos últimos anos de sua vida), foi baseado numa crônica de jornal. ``A montagem é o resultado de um encontro do texto, traduzido diretamente do russo pelo Vadin Niktin, com a essência de cada um de nós", diz Carvalho. O resultado, segundo Mattos, é uma montagem ágil, de apenas 40 minutos. ``Foi intencional que ficasse curto. O texto já é tão claro e cristalino que era desnecessário ficar inventando coisas", diz. A dupla opta por enfrentar (mais uma vez, no caso de Carvalho, que define o gênero como sua opção de linguagem) o estigma que afasta uma camada do público dos monólogos. ``O perigo do teatro, e não do monólogo tão somente, é que o ator passe a ser uma espécie de pintor que só faz auto-retrato", define Carvalho, afirmando que se manter distante de tal perigo continua a ser seu objetivo. Mattos e a companhia do Teatro de Câmara de São Paulo iniciam, logo após a estréia, a montagem de mais um texto de Bosco Brasil (``Budro", ``Atos e Omissões"), para estrear em janeiro de 1996. A partir daí, o teatro deve recolocar em cartaz, em dias alternados, todas as montagens do grupo (``Budro", ``Atos e Omissões", ``O Sonho de um Homem Ridículo" e o próximo) -concretização do objetivo de constituir no espaço da praça Roosevelt um teatro e uma companhia de repertório. Peça: O Sonho de um Homem Ridículo De: Fiódor Dostoiévski Direção: Cacá Carvalho Com: Jairo Mattos Onde: Teatro de Câmara de São Paulo (pça. Roosevelt, 184, tel. 011/259-6392) Estréia: hoje, às 21h Quando: quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h Quanto: R$ 15 (qui e sex) e R$ 20 (sab e dom) Texto Anterior: A discórdia traz ameaça à paz Próximo Texto: Diretor russo expõe absurdo da obrigatoriedade do serviço militar Índice |
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