São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Começa hoje mostra de Miró no Rio

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Exposição: Miró - Caminhos da Expressão
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, centro do Rio, telefone 021/ 216-0237)
Quando: a partir de amanhã e até dia 17 de dezembro. De terça a domingo, das 10h às 22h.
Quanto: Entrada franca.

A mais representativa e valiosa mostra Joan Miró (1893-1983) já feita no Brasil será aberta hoje, para convidados, e amanhã para o público no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio. As 179 obras -entre pinturas, desenhos, esculturas e obras gráficas- estão avaliadas, para efeito de seguro, em quase US$ 21 milhões.
Boa parte das obras pertence à Fundação Pilar e Joan Miró, de Palma de Mallorca (Espanha), criada pelo artista dois anos antes de sua morte. Os 147 desenhos trazidos ao Brasil são praticamente inéditos -só foram expostos uma vez, entre dezembro de 1994 e fevereiro de 1995 na fundação.
Além do ineditismo, a mostra traz uma raridade que fala de perto aos brasileiros: um livro no qual o poeta João Cabral de Mello Neto analisa a obra de Miró, ilustrado pelas três primeiras xilogravuras que o artista fez em sua vida.
A amizade entre o artista e o poeta brasileiro surgiu em 1947, quando João Cabral era cônsul geral em Barcelona. Do livro, editado em 1950 pela Ediciones de LÓc (de Barcelona), foram feitos apenas 125 exemplares. O texto foi mantido em português, por exigência do artista espanhol.
``Miró não deixou que se traduzissem os escritos de João Cabral para que não houvesse interferência no pensamento do poeta", explica Irma Arestizabal, curadora da exposição.
Em uma gravura datada de 1948, a amizade entre os dois é reafirmada em dedicatória. ``Para meu amigo Cabral de Mello Neto, afetuosamente, Miró".
Outro destaque da exposição são dois grafites feitos sobre os muros de seu ateliê em Palma de Mallorca. No final dos anos 50, Miró visitou grutas na região de Altamira, na Espanha. As pinturas rupestres o inspiraram.
``O choque emocional de encontrar a arte pré-histórica fez com que Miró decidisse transformar seu ateliê numa gruta. As paredes viraram telas para sua arte", conta Pablo Rico, presidente da Fundação Pilar e Joan Miró, que chegou ao Rio na segunda-feira para acompanhar a montagem.
Até hoje, conta Rico, as paredes do ateliê de Miró mostram os grafites feitos com carvão. Muitos deles funcionaram como esboços para obras feitas mais tarde. Os dois grafites que estarão expostos a partir de amanhã no CCBB são os únicos retirados do ateliê.
Os grafites, feitos no final dos anos 50, antecedem a fase preto-e-branco do autor. Depois de uma viagem ao Japão em 1966, Miró abandonou as cores primárias que caracterizavam o início de sua carreira -já um pouco abandonadas na fase dos grafites.
``Os grafites foram uma espécie de premonição para o que viria depois", diz Rico, mostrando nas paredes do CCBB a série ``Paisagens" -três quadros em que Miró mostra a linha do horizonte vista de sua casa em Mallorca usando apenas o preto e o branco.
Dois outros quadros sem título, feitos no final dos anos 60, mostram outra experiência do artista. Sobre o branco da tela, Miró pinta um fundo usando o que Rico chama de ``cores sujas" -a água usada na lavagem dos pincéis, que dá um tom de terra ao trabalho.
``Miró chega ao estado mais puro de sua obra. Não há elementos decorativos, nem complexidade de composição. Ele busca a pureza de linhas", explica Rico.

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