São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 1995
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Pró-álcool; Maluf; Higuita; Consenso da Vilaboim

Pró-álcool
``São oportunas as avaliações efetuadas pelo professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, na Folha de 9/10, sobre o Pró-álcool. O país necessita, com urgência, de uma política energética que leve em consideração a vocação nacional, os impactos da produção/consumo e dos custos/preços. No exterior, especialmente nos EUA, há crescente interesse pela produção e uso do álcool combustível, como ficou evidenciado na recente visita dos governadores americanos. Razões estratégicas da criação do Pró-álcool, em 1975, ainda persistem (o Brasil importa 50% do petróleo consumido). Os custos/benefícios da indústria alcooleira deveriam ser inventariados, sem partidarismo, avaliando a contribuição social, econômica e para o meio ambiente da produção dessa energia renovável e limpa. Dessa análise, depende o futuro da indústria alcooleira."
Luiz Gonzaga Bertelli, diretor do Departamento de Infra-Estrutura Industrial da Fiesp (São Paulo, SP)

Maluf
``Os leitores da Folha, que já tiveram na pág. 1-2, coluna São Paulo, análises isentas e argutas de um Cláudio Abramo e as têm de Clóvis Rossi, agora se deparam com o preconceito ideológico e pessoal, que beira o racismo, de Hélio Schwartsman (9/10). Torna-se difícil, inclusive, separar o que é simples desinformação do que é nítido preconceito em suas acusações ao prefeito Paulo Maluf. Schwartsman diz que o IR negativo é uma `idéia de esquerda', ignorando que o `esquerdista' que primeiro a formulou chama-se Frederik von Hayek, também conhecido como teórico do neoliberalismo. Outro `esquerdista', desta vez brasileiro, a defender o IR negativo chama-se Roberto Campos. Depois, Schwartsman embarca no mais inconsequente `achismo': o complexo viário Ayrton Senna `destrói' o Ibirapuera, quando o que ocorre é o contrário, o túnel vai retirar 30% do tráfego em torno do parque, melhorando suas condições atmosféricas. Schwartsman deveria saber, também, que o parque Burle Marx somente tornou-se realidade porque a atual gestão resolveu com transparência o que na administração do PT ficou conhecido como o escândalo Lubeca: trata-se do projeto Panamby, finalmente concluído, por meio do qual a iniciativa privada entregou à cidade o parque Burle Marx. É fácil verificar que o grande `defeito' de Paulo Maluf é aquele que os `defensores da esquerda', como Schwartsman, não têm coragem de apontar: o de estar figurando, conforme a pesquisa Datafolha, como o prefeito com maior índice de aprovação da história recente da cidade."
Adilson Laranjeira, assessor-chefe de imprensa da Prefeitura de São Paulo (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Hélio Schwartsman - Sir Thomas More (1478-1535) e burgomestres da cidade de Bruges (Bélgica) no século 18 podem com mais propriedade reclamar o título de pais da idéia de renda mínima do que Frederik von Hayek. E por motivos mais elevados do que os desse teórico liberal (garantir a segurança dos ricos). Toda a novela em torno do relatório de impacto ambiental do túnel sob o Ibirapuera demonstra que a idéia de que essa obra vá ``limpar" o parque está longe de ser consensual. Por fim, faço um ``mea culpa" ao ter comparado Paulo Maluf -a quem pessoalmente prezo, mas cujas políticas rejeito- a Hitler. Quando incorri nesse erro, pensava nos termos estritamente técnicos do amor à propaganda, do gesto pensado, do grande teatro. Acabei perdendo de vista o aspecto simbólico do que Hitler representa. E, nesse ponto, muito mais significativo, é óbvio que Maluf não é Hitler. Minhas sinceras desculpas ao prefeito.

Higuita
``A crônica do Gabeira na Ilustrada de 2/10 sobre o goleiro Higuita é uma das mais belas páginas do jornalismo brasileiro. Parabéns ao Higuita. Suas maluquices devolvem um pouco da alegria da `Era Garrincha', quando o futebol era uma festa para olhos."
João Carlos Moura (Rio de Janeiro, RJ)

Consenso da Vilaboim
``Foi injusta a Folha ao citar o bar-restaurante Nabuco no artigo `O Consenso da Vilaboim' (edição de 7/10), como cenário desse consenso e local reprovado no `teste do real'. No Nabuco, mais se dissente do que se consente. Lá, por meio de medidas práticas, se luta diariamente contra a ilusão embutida no real. Por exemplo, contra a idéia colonizada de que aqui deva ser mais barato do que Paris ou Nova York a `qualquer preço', esquecendo que a inflação do real, mascarada pela paridade politicamente sustentada deste com o dólar, arrastou os preços internos às alturas, se comparados com os preços externos. Nos EUA, por exemplo, o restaurante é apenas a ponta da linha da grande indústria e só excepcionalmente é o artesanato (caríssimo, aliás). Entre nós, é, como regra, artesanato. E, se a renda não se distribuir melhor e o mercado não crescer para a indústria de insumos para restaurantes, estaremos sempre condenados ao artesanato. Mesmo assim, o Nabuco, dias antes do artigo, já havia mudado o cardápio para incorporar uma redução média de preços de 27%! Na mesma linha, há mais de dois meses oferece um `almoço executivo' a preço bem razoável, prova é que seu público só tem crescido. Como conseguimos? Substituindo matérias-primas, suprimindo pratos de componentes mais caros, cortando custos e assim por diante. Infelizmente, desse modo vamos ficando mais iguais ao Brasil, com suas contradições, que agora chegam à identidade culinária, já que o palmito merece o (justo?) repúdio porque é mais caro do que a endívia. Os serviços e as rendas (juros, aluguéis, manutenção etc.) dispararam no Brasil do real ao mesmo tempo em que as matérias-primas caíram de preço. Para sermos modernos, é preciso abandonar a mentalidade de casa grande, onde o preço dos alimentos era igual ao da matéria-prima acrescido de um tiquinho de nada, já que o trabalho incorporado (o da senzala, é claro) valia nada. Pode-se importar endívia, mas não se pode importar trabalhadores e serviços. Nem aluguéis e impostos. Essa a raiz da dissensão da classe média com o Plano Real. Não se pode dizer que na praça Vilaboim se exercita o `sonho de estar no Primeiro Mundo'. Lá se vive o Brasil real, como em qualquer outro lugar do Brasil do real."
Carlos Alberto Dória (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Fernando Rodrigues - O sr. Dória não explica em sua carta por que dois pratos de creme de palmito, guaraná, uma fatia de pão italiano com molho de tomate, pão e manteiga custam R$ 46,38.

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