São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Migalhas para o social

Para uns, as dificuldades estimulam a criatividade. Para outros, paralisam as ações. Porém, diante dos obstáculos, há também os que simplesmente desatinam.
As secretarias estaduais dos Transportes e da Criança, Família e Bem-Estar Social haviam lançado nesta semana o esdrúxulo projeto de colocar internos da Febem em postos rodoviários de coleta de pedágios para que ali recebessem doações voluntárias dos motoristas. O valor arrecadado seria então usado para financiar projetos de assistência aos menores carentes. Os laboratórios da administração pública produziriam assim um dos mais aberrantes hibridismos dos últimos anos: a oficialização da mendicância como atividade arrecadadora.
Diante da forte reação de especialistas contrários ao projeto, acompanhada de suspeitas quanto à sua legalidade, a Febem propõe agora que, em vez dos internos, sejam mobilizados os seus monitores para essa curiosa forma de arrecadação. Se a emenda não é pior que o soneto, ao menos iguala-o em inoperância e insensatez.
Ainda parece bastante ingênuo imaginar que um programa social de grande alcance possa ter como fonte de recursos os minguados centavos oferecidos pelos motoristas, ao sabor de suas inclinações momentâneas. A inconsistência da proposta fica mais clara se for lembrado que essa ``arrecadação" limita-se ao prazo de uma única semana, contada a partir de hoje.
Para cumprir suas metas sociais, o governo pode recorrer a estratégias bem mais aceitáveis, como os pedidos de dotação orçamentária, que, quando devidamente justificados, servem justamente para as situações excepcionais. A cobrança de um percentual sobre os pedágios arrecadados por quem de direito, por sua vez, ofereceria maior garantia de regularidade na captação de recursos.

Texto Anterior: Chicago boys
Próximo Texto: Fazer e pensar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.