São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Chicago boys

A história política da América Latina durante os anos 70 consagrou uma geração de tecnocratas que, para os então economistas da oposição, acabou virando sinônimo de ditadura e exclusão social. Eram os ``Chicago boys", os discípulos do monetarista Milton Friedman, que provocavam calafrios nos estruturalistas latino-americanos.
Cerca de 20 anos depois, mais um professor de Chicago é o vencedor do Prêmio Nobel. Robert Lucas é o quinto premiado em seis anos. É o oitavo desde a premiação de Milton Friedman em 1976.
Embora suas teorias e modelos sejam bastante distintos entre si, não há dúvida quanto a uma mensagem comum, subjacente aos vários acadêmicos de Chicago: o mercado é uma instituição flexível e regida por princípios mais objetivos do que a razão de Estado.
O Nobel de Economia certamente não é garantia de verdade científica, mas a sequência de homenagens a economistas que direta ou indiretamente escolheram o mercado como foco privilegiado da análise é sintomático de uma época, este final do século 20, em que os fundamentos da gerência estatal dos mercados foram essencialmente abalados.
Do planejamento soviético às políticas macroeconômicas keynesianas, passando pelas crises fiscais e pelas tentativas de reforma dos sistemas estatais de previdência em todo o mundo e pelas ondas de privatização, percebe-se com clareza crescente que os sistemas econômicos tornam-se cada vez mais orientados para o mercado.
Mas é dos Nobel justamente que vem também o alerta. Embora os ``Chicago boys" comunguem de uma atenção especial para os mecanismos da economia de mercado, entre eles há sem dúvida divergências sobre o alcance e a consistência da racionalidade desses mesmos mecanismos.
Entre Lucas e Friedman há um importante ponto em comum que é o ceticismo quanto à eficácia das ações do Estado. Mas o próprio fato de, 20 anos depois do primeiro Nobel de Chicago ter feito o alerta, ainda se pesquisarem e redescobrirem os limites dessa eficácia é algo que em si mesmo diz muito sobre a dificuldade de reconstruir as instituições da economia.
Em parte devido a todas as mudanças econômicas dos últimos anos, a inflação está sob controle nos países desenvolvidos, e os ganhos de eficiência foram enormes. É impressionante que oito prêmios Nobel de economia tenham ido para Chicago. Mas não deixa de ser curioso que, em meio ao ``gran finale" dos não-intervencionistas, o tema do desemprego -argumento tradicional de seus opositores- esteja mais uma vez ganhando o primeiro plano.

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