São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Foram-se os cérebros

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Há no universo da informática dois personagens típicos: o programador e o usuário. O primeiro elabora os programas que, gravados na memória do computador, são operados pelo segundo.
O programador é desafiado a pôr na mão do usuário programas mais e mais sofisticados. O ritmo frenético faz com que o dono de um Windows 3.1 sinta-se fora de moda. A despeito das dúvidas quanto à propalada eficácia do Windows 95, filho mais moço da Microsoft.
O Plano Real é como um software, eis aonde queria chegar. Edmar Bacha, Pérsio Arida e André Lara Resende são os formuladores do programa. Personagens como Pedro Malan, José Serra e Gustavo Loyola são usuários.
Pois já não resta nenhum dos cérebros do Real no governo. Exceção feita ao economista Gustavo Franco, que contribuiu menos do que sua vaidade faz supor.
Entre todas as defecções, a mais sentida por Fernando Henrique foi a de Bacha, espécie de Bill Gates da estabilização econômica. A presença de Bacha, ainda que apático e baseado no Rio, levava certo sossego à alma de Fernando Henrique.
Sabia que, submetido a uma dificuldade, poderia discar para o auxiliar. Agora mesmo, antes do pedido de demissão, pensava em nomeá-lo seu negociador econômico no Congresso.
No momento, o Real reclama ajustes. O governo terá de atualizar o winchester de seu computador. E pode sentir falta do talento criativo e da experiência dos programadores.
As mudanças eram previstas desde o início. Sucesso de público, o real da deflação está pendurado numa política monetária de caráter temporário. A moeda pede a vitamina de um vigoroso ajuste fiscal.
Entre os economistas que sobraram no governo, José Serra é o mais bem equipado para evoluir da posição de usuário à de programador. O problema é que, até aqui, suas ferramentas não têm funcionado. Em vez do ajuste definitivo, o governo busca a renovação do Fundo Social de Emergência.
O irônico no caso é que Serra foi um crítico do Real na fase em que o programa não passava de um rascunho, batizado de Bacha-1. Hoje, vai-se transformando numa força hegemônica no governo.

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