São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Evangélicos protestam durante ato católico

DA FOLHA VALE

O arcebispo de Aparecida, dom Aloísio Lorscheider, convocou ontem os fiéis a ``defender a fé católica" durante missa solene celebrada ontem, em Aparecida, às 10h, como comemoração ao dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
Pouco antes, um grupo de evangélicos participou de ato de protesto ao lado da basílica de Aparecida contra o culto à imagem de Nossa Senhora. A manifestação começou às 8h e durou uma hora.
Durante a manifestação, o grupo evangélico usou uma imagem de gesso de Nossa Senhora para encenar milagres que simulavam a cura de deficientes físicos.
Segundo o relações públicas da basílica, padre José Bertanha, a manifestação foi dissolvida pelos católicos. A Polícia Militar não registrou tumultos.
Bertanha disse que dom Aloísio considerou a manifestação uma ofensa.
No discurso de celebração à Nossa Senhora, durante a missa, dom Aloísio disse que os evangélicos ``adoram a Bíblia, mas não sabem usá-la adequadamente".
O sermão foi acompanhado por cerca de 38 mil pessoas.
Durante entrevista coletiva após a missa, o arcebispo de Aparecida que a Igreja Católica está ``aflita" com o avanço da Igreja Universal do Reino de Deus.
Segundo o arcebispo, é ``preocupante" o crescimento da igreja evangélica, que se aproveita de pessoas menos esclarecidas para explorar sua fé.
``Eles estão aproveitando da cegueira cultural e social de milhões de brasileiros para crescerem."
Segundo o arcebispo, a Igreja Católica pretende conter o avanço dos evangélicos por meio de uma verdadeira evangelização.
``Os católicos devem se unir para defender sua fé", disse.

Governo
Dom Aloísio fez críticas à política do governo federal no seu sermão. Para ele, o problema da miséria e da fome de 32 milhões de brasileiros, só poderá ser resolvido com ``uma verdadeira promoção da pessoa humana".
O tema da missa foi ``Nossa Senhora Aparecida, Mãe dos Excluídos". A missa foi transmitida via satélite por um pool de 140 emissoras de rádio e televisão.
Durante o sermão, o arcebispo falou sobre as pessoas excluídas, que não conseguem ``encontrar o seu lugar na sociedade".
Para dom Aloísio, as ``verdadeiras mudanças sociais" só irão acontecer com uma verdadeira ``revolução".
``Essa revolução precisa partir da base, onde está a maioria das pessoas excluídas", afirmou.

Paternalismo
Em entrevista coletiva após a missa, Dom Aloísio criticou o Programa Comunidade Solidária, presidido pela primeira-dama, Ruth Cardoso.
Segundo o arcebispo, a política do governo federal é ``paternalista e assistencialista".
O arcebispo também criticou o poder político e financeiro, ``concentrado nas mãos de uma pequena elite brasileira".
Ele classificou como elites os políticos, os militares e as pessoas de grande poder aquisitivo, ``que detêm o controle do poder e do dinheiro".
``Essa elite não cumpre o seu dever", disse dom Aloísio.

Texto Anterior: Voto eletrônico beneficiará 32 mi de eleitores
Próximo Texto: Imagem é chutada na TV
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.