São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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`Igreja está perdendo infiéis'

DA FOLHA VALE

O arcebispo de Aparecida, d. Aloísio Lorscheider, disse ontem, durante entrevista, que ``a igreja não está perdendo fiéis, mas infiéis" para a Igreja Universal.
Para d. Aloísio, o crescimento da Universal preocupa porque, segundo ele, a igreja não respeita a ``dignidade humana".
Durante sermão em missa em Aparecida, o arcebispo fez críticas à política do governo federal.
Para d. Aloísio, o problema da miséria e da fome de 32 milhões de brasileiros só poderá ser resolvido com ``uma verdadeira promoção da pessoa humana".
O tema da missa foi ``Nossa Senhora Aparecida, Mãe dos Excluídos". A missa foi transmitida via satélite por 140 emissoras de rádio e televisão. Durante o sermão, o arcebispo falou das pessoas excluídas, que não conseguem ``encontrar seu lugar na sociedade".
D. Aloísio disse que as ``verdadeiras mudanças sociais" só irão acontecer com uma verdadeira ``revolução".
``Essa revolução precisa partir da base, onde está a maioria das pessoas excluídas", afirmou.
Em entrevista coletiva após a missa, d. Aloísio criticou o Programa Comunidade Solidária, comandado pela primeira-dama, Ruth Cardoso.
O arcebispo também criticou o poder político e financeiro, ``concentrado nas mãos de uma pequena elite brasileira". Ele classificou como elites os políticos, os militares e as pessoas de grande poder aquisitivo, ``que detêm o controle do poder e do dinheiro".

Folha - O sr. acredita que a Igreja Católica está perdendo fiéis para a Igreja Universal?
D. Aloísio Lorscheider - A igreja não está perdendo fiéis, mas infiéis.
Folha - Como o sr. vê o avanço da Igreja Universal?
D. Aloísio - Vejo com preocupação, na medida em que a eles exploram a fé de pessoas menos esclarecidas e não se preocupam com a dignidade humana.
Folha - Mas a Igreja Católica também é acusada de explorar a fé com a venda de imagens.
D. Aloísio - Sou contra a comercialização dentro da basílica de Aparecida e pretendo acabar com isso. Quando os evangélicos criticam a venda de imagens, eles querem atacar a adoração que fazemos a Nossa Senhora Aparecida.
Eles não aceitam a virgindade de Maria, nem a sua concepção imaculada, sem pecado. Nossa Senhora não é uma prostituta como eles querem relacionar.
Se nós somos acusados de idolatria, eu poderia dizer que eles são adoradores da Bíblia, mas não sabem interpretar o livro sagrado.
Folha - Em seu sermão, o senhor enfocou o problema dos excluídos e disse que essa situação tem que ser modificada. Como isso seria feito?
D. Aloísio - Por meio da promoção da pessoa humana. O governo não pode querer mudar a situação dos excluídos com uma política paternalista e assistencialista.

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