São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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O recesso dos manuais

JANIO DE FREITAS

O confronto entre os que afirmam e os que negam a recessão econômica recebe novo ingrediente, com os dados concluídos pelo IBGE sobre a produção industrial até o fim de agosto. Indicam eles que o presidente Fernando Henrique, acabando de dizer, com sua habitual finura, que os afirmadores da recessão ``vão ter que engolir o que disseram", corre o risco de se defrontar com o fato indigesto de que não sejam os ``burros" e os ``fracassomaníacos" a engolirem alguma coisa.
Pelo que dizem os manuais dos economistas, a recessão se caracteriza quando o Produto Interno Bruto, ou mais simplesmente a produção nacional, manifesta queda em dois trimestres sucessivos. No trimestre abril-maio-junho, o PIB sofreu queda de 3,9% em relação ao primeiro trimestre do ano. Com a queda da produção industrial em julho e agosto, a recuperação parcial ocorrida em setembro não será suficiente, pelo que estima o Departamento de Indústrias do IBGE, para evitar que o terceiro trimestre (julho-agosto-setembro) também apresente queda. Seriam então dois trimestres sucessivos de redução do PIB.
A confirmarem as estatísticas o que os manuais identificam como recessão, um espetáculo previsível é o do malabarismo mental dos economistas. Será a reprodução, atualizada pela ``modernidade" de modos e linguagem, do acontecido quando a inflação do pós-cruzado entrou na faixa dos 30%. Os economistas encheram quilômetros de papel sobre o perigo da hiperinflação que pressentiam. Quando chegaria ela? De posse dos seus manuais, apontavam: quando a inflação chegar a 50%, esse é marco. A partir do qual vem o caos.
Mailson da Nóbrega, então ministro, foi pastoreando a inflação morro acima -40%, 45, 54%, 66, 72%. Entregou-a à sucessora com o recorde olímpico de 84% ao mês. Estávamos em hiperinflação? Desde que atravessados os 50% referidos pelos manuais, os PhDs silenciavam sobre isso. Quando se insistia em saber se, afinal, havia ou não hiperinflação, vinham evasivas: ``Bem, estatisticamente há, mas as peculiaridades da economia brasileira não permitem afirmar que haja hiperinflação". As definições e os conceitos ``científicos" dobravam-se às conveniências políticas: era época de disputa eleitoral, Collor contra Lula, e PhDs de economia não comungam com causas populares.
Aguardemos o destino que a conveniência política dará ao marco ``científico" que identifica a ocorrência de recessão. E vejamos quem engolirá o quê.

Programas
Dentre todos os países filiados ao FMI, a delegação do governo brasileiro é a segunda mais numerosa na reunião do fundo em Washington: 34 integrantes. São festas e recepções que não acabam mais.
Não é à toa que o atual governo, em nove meses de existência, já é detentor do título de maior gastador em viagens. É mesmo um governo dedicado a numerosos programas sociais.

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