São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Os novos barões e a plebe

GERALDO FACÓ VIDIGAL

É moda avacalhar homens públicos. Informações de origem incerta ressoam na imprensa brasileira, acusando nomes de proa da administração pública do "crime de participar ou ter participado da iniciativa privada. Claro, em caso de abuso ou desvio de poder, má conduta em cargos ou funções públicas, o Ministério Público deveria ser acionado e medidas judiciais, civis e penais, tomadas.
Mas não é o que estamos vendo: em nome da "ética, está havendo uma caça às bruxas no setor público. Misteriosamente, chegam simultaneamente aos meios de comunicação violentas "acusações: "Fulano foi, ou é, sócio da empresa tal. Beltrano trabalhou no setor privado e vai voltar sabendo de tudo!. Mas essa história de "saber tudo é muito estranha. Parte do princípio de que deve haver segredo no trato da coisa pública, escondendo do povo assuntos de seu interesse. E mais, num país onde não há planejamento de longo prazo, saber ou não alguma coisa é irrelevante, pois o fato de hoje nada vale amanhã.
A guerra foi declarada. "Morte aos infiéis da iniciativa privada: viva a burocracia e os burocratas! Essa é a mensagem implícita na guerra travada por quem deseja criar uma classe superior de burocratas. "Todo o poder emana da burocracia e por ela será exercido. Os burocratas querem o poder, sem essa de "com o povo, para o povo e pelo povo. Com os burocratas, para os burocratas e pelos burocratas, isso, sim! Embora o povo tenha construído o Estado para servir à coletividade, hoje, o Estado, perigosamente, principia a agir como se a sociedade existisse somente para servir a "ele, Estado. E é preciso decidir se o Estado pertence à sociedade -caso em que os funcionários devem ser empregados do povo- ou se deverá a sociedade ajoelhar-se frente aos novos barões, os todo-poderosos burocratas estáveis, donos do Estado e proprietários da árvore do bem e do mal.
São fundamentos constitucionais da República os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Para os servidores públicos, a Constituição elenca deveres e direitos. Nenhum que lhes dê o direito de governar-nos. O artigo 5º, ao contrário, garante não só a igualdade de todos como também assegura a participação em cargos e funções públicas, inclusive aos 81% da população brasileira que trabalha na iniciativa privada.
Os burocratas são meros serviçais do povo, pois é a produção privada que paga seus salários por meio de impostos. Enfim, se não pudermos ter um profissional do setor financeiro privado como ministro da Fazenda, um jurista como ministro da Justiça, um médico como ministro da Saúde, um agricultor como ministro da Agricultura, então teremos a "ditadura da burocracia, muito próxima da "nomenklatura, a privilegiada burocracia que destruiu a União Soviética. Chega! É preciso reagir à pretensão injusta, deletéria e inconstitucional de criar no Brasil castas privilegiadas de burocratas.

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