São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Roberto Athayde se inspira na morte do pai

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Peça: Praga de Madrinha
Autor e diretor: Roberto Athayde
Com: Betty Erthal, Anderson Müller, Carla Costa, Alexandre Morenno, Lúcia Segall
Onde: Teatro Mars (r. João Passalaqua, 80, tel. 605-9670)
Quando: quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Quanto: R$ 15 (quinta), R$ 18 (sexta e domingo) e R$ 20 (sábado)

O diretor e dramaturgo Roberto Athayde, 45, diz que sua peça inédita ``Praga de Madrinha", que estréia hoje no Teatro Mars, foi inspirada pela morte de seu pai, o escritor Austregésilo de Athayde.
``Ele sempre foi uma pessoa muito excêntrica, nunca foi ao médico até 15 dias antes de morrer. Eu vi, então, meu pai passivo diante da medicina e fiquei imaginando como uma pessoa excêntrica gostaria de morrer", diz.
Daí surgiu a personagem principal da peça, a antropóloga Matilde, que cria uma afilhada ``mulata" e faz questão de que ela se case com um negro.
Para o autor, o termo ``mulata" ainda está carregado de preconceito na sociedade brasileira, embora seja aceito em algumas situações. Seu objetivo foi mostrar essa contradição, caracterizando a personagem como ``uma mulata que foi estudar na Suíça e em Harvard, absolutamente fina e aceita pela alta sociedade".
Quando surge um pretendente branco, o charmoso e decadente Osvaldo, Matilde roga uma praga para que todo branco que tocar a afilhada fique impotente.
``Ela é o retrato do Brasil, uma pessoa que, por sua experiência pessoal, deveria ser a favor da miscigenação, mas que ainda mantém um resquício do preconceito de que o branco continua sendo melhor que o negro", explica.
Os motivos do preconceito só são desvendadas no final da peça, quando Matilde, à beira da morte, recorre à empregada, descendente de índios, para uma espécie de eutanásia.
Na peça, o pajé de uma tribo fictícia teria o costume de marcar a data da morte dos índios.
Athayde diz que resolveu dirigir suas peças depois que se sentiu``vitimado" por algumas montagens feitas por outros diretores de personalidade forte.
``Isso aconteceu justamente com quem melhor dirige as minhas peças, o Aderbal Freire, na montagem de `Os Desinibidos', com a Vera Fischer. Ele quis fazer uma colagem dos meus textos e ninguém entendeu nada", lembra.
Dirigir atores, no entanto, não é seu forte.``Eu tenho uma visão muito clara do espetáculo, mas, como não sou ator, minha relação com eles é muito tempestuosa", explica.
Desta vez, a maior dificuldade, segundo o diretor, foi convencer o elenco de que ``Praga de Madrinha" não é uma comédia. Embora seja engraçada, ela aborda, segundo o autor, uma questão séria da sociedade brasileira, a contradição entre miscigenação e preconceito.

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