São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995 |
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Helena Meirelles toca sua viola encantada
JOANA GELPI MARCONDES
Com: Helena Meirelles e banda Quando: Hoje e amanhã, às 19h30, e domingo, às 18h30 Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Adoniran Barbosa (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611, ramal 250) Quanto: R$ 8,00 Ela nunca foi à escola, já morou em bordéis, animou bailes do sertão pantaneiro e desafiou a família tocando viola em tempos em que ``isso era coisa pra homem". São alguns ``causos" da vida da violeira Helena Meirelles, 71, que serão contados no show ``A Grande Dama da Viola", que estréia hoje no Centro Cultural. O espetáculo -que é mais que um show de música- faz parte da turnê de lançamento do primeiro disco de Helena, gravado pela gravadora Eldorado, no final do ano passado. Em mais ou menos duas horas, Helena, que é especialista em rasqueado -versão mato-grossense para a polca paraguaia-, mostra quatro composições suas, entre várias canções de domínio popular, que expressam a cultura do sertão pantaneiro. Entre as músicas estão ``Guaxo", na qual ela imita o ruído do vôo de um pássaro devorador de laranjas, e ``Araponga", em que reproduz o som do canto dessa ave. Essas músicas deram a Helena o prêmio ``Spotlight Artist" (artista-revelação) da norte-americana Guitar Player, uma das revistas de música mais prestigiadas do mundo, em novembro de 93. Sem saber ler nem escrever, Helena foi autodidata com o violão. Acostumada a tocar desde os nove anos em barracões de baile, animando festas, ela só subiu em um palco pela primeira vez aos 68 anos. Hoje, sente saudades daquele tempo, mas diz que acha mais gratificante tocar em teatros mais sofisticados: ``Aqui, as pessoas prestigiam mais o meu trabalho, ficam quietas, só escutando, e no final, aplaudem. Nas festas era eu começar a tocar pra começar a gritaria, os tiros. Ninguém nem ouvia o que eu estava tocando", lamenta. Supersticiosa, Helena toca com uma palheta de chifre de boi, que ela mesma faz nas sextas-feiras santas, debaixo de uma figueira, antes do sol nascer, e leva na caixa de ressonância de sua viola um guizo de cascavel. ``Tudo isso para dar sorte e atrair coisas boas", diz. ``Fora que palheta de plástico não presta, amolece logo, entorta tudo". Além de benzedeira, também foi parteira e fez, ela mesma, o parto dos seus 11 filhos: ``Um deles nasceu no pasto, no meio das vacas, não deu tempo nem de chegar em casa", conta, ensinando ``pra quem precisar" a receita à base de fumo amassado com óleo para cicatrizar o cordão umbilical dos bebês. Texto Anterior: Vísceras e miúdos desafiam o apetite Próximo Texto: Roberto Athayde se inspira na morte do pai Índice |
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