São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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Bispo culpa também governo por agressão

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

O arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales, disse ontem que o governo federal também é, em parte, responsável pela agressão feita em programas da TV Record a uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Ele lembrou que TV e rádio são concessões públicas. Disse ainda que está sendo pensado um ato público de desagravo à santa.
A agressão à imagem ocorreu na última quinta-feira, durante os programas "Despertar da Fé" e "Palavra de Vida". As cenas foram protagonizadas pelo bispo Sérgio Von Helder, que deu chutes e socos na imagem da santa.
"Ninguém, até agora, havia lembrado o papel do governo, que também tem sua responsabilidade ao permitir concessões para pessoas que não estão preparadas para isso", afirmou d. Eugênio.
Ele reagiu com cautela ao pedido de desculpas feito pelo fundador da Universal, Edir Macedo. O arcebispo do Rio disse peferir aguardar "atos concretos". D. Paulo Evaristo Arns, cardeal-arcebispo de São Paulo, também afirmou que não bastam as desculpas: "Por isso apoiamos todas as ações judiciais contra a agressão".
D. Eugênio afirmou que hoje será discutida a possibilidade de um grande ato de desagravo a Nossa Senhora. O ato, segundo ele, poderá ser realizado no Maracanã ou na catedral metropolitana.
A transferência definitiva da Rede Record para o bispo Edir Macedo ocorreu durante o governo de Itamar Franco.
O ex-chefe da Casa Civil Henrique Hargreaves foi um dos principais responsáveis pela autorização para a venda da emissora.
A autorização oficial foi assinada em 23 de fevereiro de 1994, no mesmo dia em que foi aprovada a criação do FSE (Fundo Social de Emergência), um dos sustentáculos do Plano Real.
A transferência da Rede Record -que pertencia a Silvio Santos- para Edir Macedo começou a tramitar em 1991. O processo emperrou no Ministério das Comunicações porque a área de fiscalização do ministério apontava irregularidades no negócio.
No segundo semestre de 1993, a Comissão de Comunicação da Câmara dos Deputados recebeu documentos mostrando que a Record ainda estava em nome de Silvio Santos. Com base nisso, a comissão poderia barrar futuras renovações da concessão da Record.
A partir daí, o deputado federal Laprovita Vieira (PPB-RJ), cuidando dos interesses de Macedo, fez contatos com o governo para obter a transferência definitiva.
Seu principal interlocutor foi Henrique Hargreaves, que encampou a causa. A pedido dele, o Ministério das Comunicações desengavetou o processo.
Foi feito um parecer jurídico que desconsiderava as irregularidades apontadas pelos fiscais. Esse parecer abriu caminho para que Hargreaves levasse o caso ao presidente da República.
Hargreaves convenceu Itamar de que a solução do caso Record garantiria os votos dos evangélicos para o FSE. Itamar acatou a avaliação. No dia da votação em segundo turno do FSE, o presidente assinou a transferência definitiva da Record para Edir Macedo.
A bancada evangélica (cerca de 30 deputados) votou em peso a favor da aprovação do FSE. Contactado pela Folha, Hargreaves negou participação na negociação.
O Ministério das Comunicações não pronunciou sobre a fala de D. Eugênio.

Colaborou a "FT"

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