São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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`A Coisa' ataca descontrole alimentar

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"A Coisa" (SBT, 13h30) remete, no primeiro momento, a dois filmes ilustres. Primeiro, "The Thing" ("O Monstro do Ártico), realizado em 1951 por Christian Niby. Depois, o "remake" feito em 1982 por John Carpenter.
Isso é o motivo principal que leva o espectador a ligar a TV para vê-lo. É, também, o último.
Larry Cohen é um cineasta fiel ao padrão das pequenas produções, em que o fantástico não raro é cogitado: quando dá, faz bem; quando não dá, faz o pior.
Aqui, as coisas não andaram bem, embora o ponto de partida seja extremamente interessante: a existência e exploração de um alimento que, uma vez ingerido, transforma seus usuários em terríveis zumbis.
O alimento, aquilo que entra pela boca, é o que faz um homem. É, de certo modo, uma linguagem.
Vivemos em um mundo de descontrole alimentar. Especialmente nos EUA, onde a comida é consumida sem qualquer critério (ou, ao contrário, com restrições doentias).
É esse tipo de descontrole, sintomático de uma sociedade que perde também o domínio sobre os gestos, que o filme ataca.
Existe aí um tanto da formidável virulência de um filme recente de Cohen, "A Ambulância" (de 1993), onde pessoas desaparecem a caminho de um hospital.
Em "A Coisa", a ordem de raciocínio é a mesma. Estamos diante do perigo que se gera no sistema alimentar e cria um descontrole do comportamento.
O que nutre torna-se o que mata. Por algum motivo, algo não funciona. O mistério não se fixa, o humor não se consolida. As imagens são fracas, embora tenham por origem um paradoxo violento.
Ainda assim, "A Coisa" é um fracasso intrigante num dia em que a burocracia dá o tom.
(IA)

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