São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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Feira do livro faz debate com escritores perseguidos

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

A escritora de Bangladesh Taslima Nasreen participou anteontem à tarde, na Feira do Livro de Frankfurt, de um debate sobre escritores perseguidos, ao lado do sociólogo francês Pierre Bourdieu, do escritor da Martinica Edouard Glissant e de representantes do Parlamento Internacional dos Escritores, recém-criado.
Condenada à morte pelos fundamentalistas islâmicos de seu país, que consideraram seus livros blasfemos, Taslima fugiu de Bangladesh em 1994, morou oito meses na Suécia e hoje vive em Berlim, numa casa mantida pelo Parlamento dos Escritores.
No debate houve um momento insólito: com um xale em torno da cabeça, uma jovem alemã, loura de olhos azuis, declarou-se uma muçulmana discriminada em seu próprio país, e acusou Taslima Nasreen de alimentar o preconceito antiislâmico.
Um pouco antes, a escritora havia dito que a luta em que está empenhada ``não é entre Ocidente e Oriente, ou entre o cristianismo e o islamismo, mas entre a modernidade e a pré-modernidade, entre a razão e o irracionalismo".
Dissera também: ``No Ocidente há muitos simpatizantes do Islã que não sabem como sofre uma mulher dentro da cultura muçulmana".
Em sua participação, Pierre Bourdieu criou também um princípio de constrangimento ao dizer que não gostava ``das exibições públicas em favor de autores perseguidos, geralmente torneios retóricos que só satisfazem o narcisismo dos organizadores".
Depois do debate, Taslima Nasreen disse à Folha que está escrevendo um novo romance, ainda sem título. Disse também que não está aprendendo alemão: ``Não pretendo ficar muito tempo na Alemanha. Espero poder voltar logo para o meu país".
Wole Soyinka
O debate ocorrido na Feira no sábado, sobre violação dos direitos humanos e devastação do meio ambiente na Nigéria, poderia servir como ilustração para a desconfiança de Bourdieu.
No festival de retórica e emocionalismo barato que marcou a discussão, só se salvou a intervenção digna e objetiva do escritor nigeriano Wole Soyinka, Prêmio Nobel de Literatura de 1986.
Depois de relatar sucintamente os danos humanos e ecológicos causados pela exploração predatória do petróleo na região de Ogoni, no sudeste da Nigéria, Soyinka pediu que os países europeus impusessem à ditadura militar nigeriana sanções semelhantes às impostas anos atrás à África do Sul.

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