São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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EUA têm maior ato negro em 30 anos

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Em ambiente tranquilo, 400 mil pessoas (segundo o serviço nacional de parques) ou 1,5 milhão (estimativa dos organizadores) participaram ontem da maior manifestação de negros nos EUA dos últimos 30 anos.
O organizador da Marcha de 1 Milhão de Negros, Louis Farrakhan, atacou o presidente Bill Clinton, os partidos políticos, o Congresso e o movimento da ``supremacia branca" em seu discurso de duas horas e meia de duração.
Ele começou sua fala saudando os profetas e os livros sagrados do judaísmo, do cristianismo e do islamismo e negando as acusações de que é anti-semita ou racista.
``Gostem ou não, Deus está trazendo suas idéias por meu intermédio hoje. Se meu coração fosse tão escuro, como a mensagem poderia ser tão clara, a resposta tão magnífica?", disse Farrakhan.
Farrakhan sugeriu aos líderes da comunidade judaica nos EUA que se sentem com ele para dialogar: ``Se vocês podem conversar com Arafat, com rios de sangue entre os dois, por que não comigo?".
Ele pediu a cada um dos participantes que adote um prisioneiro negro como amigo até o fim de sua vida e que contribua com US$ 10 mensais para formar um fundo nacional para ajudar negros.
Outros oradores foram o ex-candidato à Presidência Jesse Jackson, a veterana do movimento por direitos civis Rosa Parks, a poeta Maya Angelou e a viúva de Malcolm X, Betty Shabbazz, que se reconciliou com Farrakhan após 30 anos de rompimento, em 1994.
Apesar da convocação de Farrakhan ter sido exclusiva para homens, alguns milhares de mulheres negras compareceram.
Todos os oradores, inclusive Farrakhan, foram apresentados ao público por seus filhos homens.
A tribuna estava cercada por um vidro à prova de balas, e o palanque, por centenas de guarda-costas da Nação do Islã, a entidade dirigida por Farrakhan.
Não houve incidentes violentos durante a manifestação, que começou às 5h30 (7h30 em Brasília) com um culto ecumênico, e durou até o final da tarde, com dezenas de grupos musicais e oradores se revezando no palco.
O dia de ontem foi frio e luminoso em Washington. A temperatura máxima foi de 15C. O sol brilhou o tempo inteiro, e um vento frio cortava o espaço descampado em frente ao Congresso, onde a multidão se juntou.
O custo da marcha, calculado em US$ 2,5 milhões, foi coberto por contribuições dos participantes e de alguns empresários negros.

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