São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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Saddam obtém 99,96% de aprovação

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

Saddam Hussein obteve 99,96% dos votos no referendo do último domingo, convocado para institucionalizar a decisão do regime autoritário iraquiano que lhe dá mais sete anos de mandato presidencial.
Ao anunciar às 10h45 de ontem (4h45 de Brasília) o resultado oficial, Itzeek Ibrahim, um dos homens fortes do governo, disse se tratar de ``um dia imortal para os árabes e para o Islã" e de uma demonstração popular ``contra as forças do mal".
A campanha que precedeu a votação não foi aberta à oposição. Não puderam votar as três Províncias do norte, onde a etnia curda é majoritária.
A pergunta que se faz em Bagdá é: o que Saddam fará após essa demonstração política de força?
Rumores, de difícil confirmação, insistem em uma próxima reforma do governo, que beneficiaria dirigentes do partido Baas favoráveis a uma reaproximação com o Ocidente.
O Iraque está submetido a um embargo comercial desde a invasão do Kuait, em 1990, que o impede de exportar petróleo e de importar produtos como remédios, eletrodomésticos e imagens da rede de televisão CNN, dos EUA.
O jornal oficial iraquiano de língua inglesa, ``The Baghdad Observer", refere-se ao embargo como uma mera ``operação imperialista" comandada pelo governo americano e seus aliados.
A medida, votada pelo Conselho de Segurança da ONU, prevalece porque Saddam se recusa a destruir seus arsenais de armas químicas e bacteriológicas.
Ontem, o governo decretou feriado nacional, contando possivelmente com manifestações espontâneas de rua que refletissem a porcentagem de votos que o dirigente do país obteve.
Mas as ruas de Bagdá permaneceram apáticas. Elas são largas e foram urbanizadas nos anos 70. Em alguns conjuntos habitacionais podia-se ouvir os iraquianos comemorando a permanência de Saddam no poder com rajadas de metralhadoras Kalachnikov.
Duas manifestações foram organizadas: uma junto ao centro montado para os jornalistas estrangeiros convidados pelo governo para acompanhar o referendo e outra diante do hotel em que parte deles está hospedada.

O jornalista JOÃO BATISTA NATALI está em Bagdá a convite do governo do Iraque.

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