São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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A discussão que faltava

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Com o brilho habitual, Renato Janine Ribeiro levantou domingo, pelo caderno Mais!, uma discussão que já rola, inconclusivamente, há algum tempo no mundo desenvolvido.
Janine teme que o poder econômico transnacional acabe por atropelar e matar a democracia representativa. O debate que se dá principalmente na Europa pega a mesma questão por outro ângulo: a crescente debilidade do Estado nacional, que alguns acreditam estar vivendo seu ocaso, sem que haja alternativa à vista.
No fundo, a discussão é a mesma. Até que se construam entidades supranacionais, como a União Européia, a democracia representativa só pode ser praticada nos limites de Estados nacionais.
A debilidade do Estado nacional se deve, de resto, à mesma causa que Janine Ribeiro vê ameaçar a democracia representativa: a globalização, para resumir em uma só palavra e interpretando-o livremente.
Suspeito que há mais um fator que torna o Estado nacional débil e, no limite, também ameaça a democracia: a crescente incapacidade de os representantes (no Executivo ou no Legislativo) darem respostas rápidas e adequadas às demandas dos representados.
Só por aí se poderia entender a velocidade com que despenca a popularidade de personalidades recém-eleitas. Caso, por exemplo, do francês Jacques Chirac, que tomou posse em maio e hoje, cinco meses depois, já está em queda livre.
Ou do próprio Fernando Henrique Cardoso, que desabou no início do governo e, hoje, mantém um prestígio ancorado muito mais no que fez como candidato (o Plano Real) do que como presidente.
No fundo, a globalização tornou mais evidente um fenômeno que já vinha se arrastando há algum tempo e assim simplificado por um ex-líder da social-democracia alemã, cujo nome agora me escapa: ``O Estado tornou-se grande demais para os pequenos problemas e pequeno demais para os grandes".
Falta um novo Colombo para pôr de pé o ovo que desfaça essa equação impossível.

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